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sábado, 15 de fevereiro de 2014

São Teotónio, missionário de vida irradiante!


Padroeiro. No dia 18 de Fevereiro celebramos um dos padroeiros da nossa Diocese — São Teotónio — nascido precisamente, em Valença, freguesia de Ganfei. Nasceu ali em 1082 e morreu em Coimbra, no Mosteiro de Santa Cruz, de que foi um dos fundadores, no ano de 1162. É o primeiro santo português canonizado, mas não foi em vida um homem consensual: uns chamaram-lhe «cana que se agita pelo vento», outros reconhecem-no como «homem de vida irradiante», mercê da subida posição social donde provinha e que o bom agostinho soube merecer. A marca mais assinalável da sua vida é talvez a conciliação e a sua veia pacificadora, quer a nível religioso quer no político. É uma vida que importa conhecer e não pode ser ignorada por portugueses e menos por vianenses.
São Teotónio é pouco conhecido entre os portugueses, e amargamente muitíssimo ignorado pelos viananses. Na infância estudou no mosteiro beneditino da sua terra. Por volta dos dez anos deixou o abastado lar paterno, em Ganfei, e fixou-se em Coimbra, levado pelo seu tio bispo D. Crescêncio. Aprendeu aí, na escola capitular, as disciplinas eclesiásticas. Pelos dezassete anos, aquando da morte do tio, foi para Viseu, onde a família teria terras. Ali completou a formação teológica e recebeu ordens, ficando ligado ao presbitério viseense.
Em 1109, ainda antes da fundação do reino de Portugal, foi nomeado prior da Sé de Viseu. Entretanto, os condes D. Henrique e Dª. Teresa, de quem era amigo, pretendiam que fosse nomeado bispo de Viseu, que na altura não era ainda diocese. A nomeação tem, porém, a oposição do novo bispo de Coimbra e isto terá chocado Teotónio, que decidiu fazer uma peregrinação à Terra Santa. Ao regressar instaram com ele para que aceitasse a mitra de Viseu. Mas, preferindo continuar como simples missionário da Palavra não a aceitou e empreendeu nova peregrinação à Terra Santa.
No regresso dirigiu-se a Coimbra, onde o chamavam os apelos de D. Telo, a cujos cuidados estivera entregue na juventude. E ali, com ele e mais dez homens de grande virtude, fundou o Mosteiro de Santa Cruz dos cónegos Regrantes de S. Agostinho, de que foi o primeiro Prior, membro eminente e muito apreciado, nomeadamente por S. Bernardo de Claraval.
Eleito unanimemente pelos companheiros, Teotónio, mais afeito à vida contemplativa que às tarefas organizativas do mosteiro, renunciou. Os seus pares, porém, voltaram a elegê-lo.
Não foi bem vista por todos os eclesiásticos da Sé de Coimbra a erecção do Mosteiro da Santa Cruz, e menos ainda o pedido ao Papa para que tomasse sob sua protecção o mosteiro, como veio a acontecer pela Bula Desiderium quod, de 26 de Maio de 1135. Incompreensões que o seu manso coração houve de dirimir.
Nos últimos anos da sua vida renunciou ao cargo de Prior para se dedicar à vida contemplativa. Mais uma vez — por iniciativa papal — quiseram honrá-lo sagrando-o bispo, e mais uma vez recusou para se dedicar inteiramente à oração.
Um dos seus companheiros e discípulo, cujo nome desconhecemos, escreveu no ano seguinte, 1163, antes da canonização, o relato da sua vida. Esse é também o ano da sua canonização pelo Papa Alexandre III. Esta biografia é também o primeiro documento em que aparece grafada a palavra «saudade» e o que primeiro documenta a data de nascimento do nosso primeiro rei.
A vida de São Teotónio caminha profundamente imbrincada com a de D. Afonso I de Portugal, e com o lançamento das fundações da nacionalidade.
De facto, eram amigos, embora o primeiro encontro não tivesse sido favorável. No entanto, o rei apreciava Teotónio, que lhe inspirava respeito a ponto de se tornar seu confidente, até porque precisava das suas orações, de uma visão espiritual e da sua capacidade conciliadora. Tal amizade jamais coibiu Teotónio de afirmar e defender a verdade, e assim, por exemplo, em 1139, após a vitória na batalha de Ourique, o abade D. Teotónio sai pela primeira vez do mosteiro para ir ao encontro e admoestar a D. Afonso Henriques e seus amigos, que traziam como escravos mais de um milhar cristãos moçárabes, dizendo-lhes que cometiam um pecado grave e que tinham de os libertar. Ao que o rei prontamente obedeceu.
D. Teotónio participou activamente no processo político-religioso que levou ao reconhecimento da independência do reino de Portugal pelo Papa Alexandre III, em 1179.
São Teotónio, de alma contemplativa e missionária, cedo compreendeu que as nações não se forjam nos campos de batalha, onde o sangue dos filhos se escoa, estéril, em regatos, mas nas escolas onde floresce a formação da juventude. Foi um missionário notável e um homem de visão moderna para o seu tempo. Foi admirável conselheiro espiritual do rei D. Afonso Henriques, que o estimava e muito o auxiliou. Morreu no dia 18 de Fevereiro de 1162 e foi sepultado numa capela do mosteiro que fundou.
São Teotónio é ainda hoje celebrado pela Igreja como um reformador da Vida Consagrada.

Chama do Carmo I NS 216 I Fevereiro 16 2013