terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pequena crónica dum encontro dos jovens carmelitas com Deus e Santa Teresa de Jesus - o XVII Horeb

Vimos e vivos.
Não se pode dizer que o XVII Horeb do Carmo Jovem tenha terminado, pois não era essa a sua função. Há-de certamente continuar nos cânticos que cantaremos nas carminhadas e noites escuras. Mas terminou enquanto espaço de tempo que demos à música e à oração, ao encontro com Deus e à amizade com quem gosta de andar por estas andanças.
Foi digno de aclamação. O frio se houve foi só por fora. Por dentro nem desânimos nem cedências. Éramos quase trinta jovens Carmelitas reunidos em Praia de Mira, numa sala que o sol da manhã aconchegou. Lá fora muito frio, cá dentro a música, o gosto e o empenho faziam suar.
Todos levaram caçarolas e ainda quatro violas, três flautas, uma delas transversal, um guião para rezar e cantar, um batuque, gargantas prontas a cantar e bocas que aprenderam a silenciar. Também forram carros, máquinas fotográficas, mochilas e sacos cama. E no meio de tudo andou Deus. Como sempre.
Nunca estes resumos ou crónicas dizem o que por lá cada um e todos juntos alcançamos sentir. Porém, é bom que se façam para que se saiba o quanto cada se ganhou. Vale a pena realizar o Horeb.
Também houve frio, água fria e camas duras. Mas tudo se vence quando o que fazemos é por Deus. Não vi quem não gostasse de ter participado. Foi diferente, foi juvenil, interessante, interactivo. E quem não sabia ficou a saber que dos tachos sai música para além da sopa.
Parabéns ao Frei João Rego que veio partilhar connosco seis canções do cautautor espanhol Rogelio Cabado e uma sua. Muito belo!
Parabéns à organização do Movimento pela sensibilidade e concretização do Horeb.
Parabéns aos amigos que nos visitaram, nos saudaram, nos legaram a herança de amor e serviço à Ordem e à Igreja, e aos que vieram comprometer-nos ainda mais com o Carmo Jovem.
Também vimos por lá o Frei Daniel Jorge desta Comunidade de Viana do Castelo. Outra bela presença. Não se esperava outra coisa. Aliás, de futuro, num futuro bem próximo, como será tão belo de ver que os jovens Carmelitas consagrados caminham, cantam e louvam lado a lado e em uníssono com os jovens leigos Carmelitas!
Fomos preparar o V Centenário do nascimento de Santa Teresa, e o que se pode dizer é que os jovens leigos e os jovens religiosos estão bem irmanados rumo a 2015.Vai ser concerteza muito belo.
No fim, estando todos tão cheios, dei por falta de duas coisas: dos antigos líderes do Movimento e dos membros seniores. Creio que temos de gerar a cultura de aparecer nestes momentos, para nos vermos e abraçarmos e animarmos, nem que seja para a Missa e almoço de Domingo. Senti falta dos jovens Carmelitas de Avessadas, Braga e Porto. Servem como ninguém as suas comunidades, mas quando as forças começam a faltar aos veteranos quem senão os jovens hão-de erguer o estandarte e animar-nos na subida ao monte? Estivessem eles presentes e eu os teria desafiado para uma festa-concerto jovem para finais de Março de 2015. Não tendo sido feito ali, daqui lhes lanço o desafio. Estou certo que existirá imaginação e amor suficientes para concretizá-lo.
A semente foi diligentemente lançada na Praia de Mira. Há ainda quatro anos pela frente. Tempo suficiente para crescermos e darmos frutos. Tempo suficiente para crescermos no diálogo com Deus, um diálogo mais santo e mais musical. Obrigado.
Ligados à nossa comunidade participaram cinco jovens.
(As foto aparecerão logo que possível.)
Frei João Costa

Concerto de Natal, marque na sua agenda

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Presépio, fase 1

 
As orientações são para seguir. E quando são assum dias democraticamente, mai ainda. Eis que o presépio deste ano já começou. O pinheiro é uma ameixoeira. o fundo ou horizonte e um papel de cenário esborratado. O musgo é verdadeiro e as pedras também.
Em breve, pouco a pouco, com a ajuda de todos, sobretudo dos mais jovens, o presépio vai crescendo. e nós vamso vê-lo crescer.
Até já

Magusto-convívio da comunidade

 
 
 
Pois foi. O Magusto foi à quase oito dias e ninguém viu fotos. Há gente a reclamar. Ei-las aqui. Para o futuro, e para o presente. As castanhas estavam muito boas, tão boas e tão quentes que quase não sobraram. O vinho era novo e bom como se vê pela foto. Também havia água e sumos. (Com poucos adeptos!). No fim veio à festa uma aguardente que alguns corajosos provaram. Faltou a concertina, mas parece que já está contratada para o ano.
Foi um belo momento em que participou um punhado de leigos carmelitas juntamente com os religiosos da comunidade.

Associação Espaço Jacobeus

 
A Associação Espaço Jacobeus, como se precebe, é um grupo de leigos a caminho do Céu com passagem por SanTiago de Compustela. Desta feita passaram pelo Carmo no dia 13 de Novembro, elegeram os corpos dirigentes da Associação, homenagearam o Presidente da Assembleia Geral cessante, Dr. Francisco Sampaio, e depois cearam, comeram uma castanhada e provaram uma queimada legítima, isto é, feita com as devidas rezas e responsos por quem sabe. E pela certa sabe, que no fim ela sabia muito bem. As fotos são da visita à igreja, orientada pelo Prior da convento.

Rei ou réu?

Este é o último Domingo do Ano Cristão. E a semana é também a última. Logo depois iniciaremos um novo ano. Obviamente os ritmos e os símbolos mudarão, como uma roda que se renova, guiando-nos a vida e elevando-nos os olhos e o coração, o espírito e o corpo, para a vivência do mistério de Deus em nossa vida, em nossas famílias e comunidades.
Ao longo do ano que ora termina celebrámos o ciclo da vida do nosso Redentor. E este último Domingo é para Lhe rendermos glória e Lhe agradecermos a sua presença salvadora.
Quanto temos a louvar! Quanto temos a agradecer! O ano foi difícil, mas vencemos mais uma barreira. Deus estava por nós e vencemos. Porque Deus olhava por nós. Porque o seu olhar é amar.
Lemos no evangelho deste Domingo um excerto do capítulo 23 de São Lucas. Na festa triunfal de Jesus que é a Solenidade de Cristo Rei, lemos a narração da sua mais profunda humilhação.
Mais profunda, porque a sua arrepiante paixão e morte não se deseja nem ao mais insignificante dos humanos. Mais profunda, porque perpetrada ao mais puro e santos dos homens! Tão santo e tão puro que era Deus!
Recordamos, pois, neste Domingo, que é coroação do ano cristão, que Jesus foi proclamado rei, mas do alto da cruz. De facto Ele estava lá no alto como um rei. E como tal era reconhecido pelos que estavam ao nível dos seus pés, embora sentenciado como um bandido. Ele era santo, eles pecadores. Ele o salvador, eles os salvados. Ele era Deus e homem, eles homens e pecadores.
No trono em que O ergueram escreveram: «Este é o rei dos judeus». Estava dito. Era rei.
O que na liturgia hoje contemplamos é um rei. Sim, está despojado, humilhado, semi-morto, nu, escarrado. Mas está digno e divino, humano e divino, santo e divino. Uns riram-se porque o viram rei como de opereta; outros choraram porque acreditaram, e ainda que nu viam-n’O rei.
Não, não é uma questão do que se vê, mas do que se depõe e se acredita.
Eis, o rei!
Rei de reis. Se de reis, muito mais dos humildes e pobres que mais confiam!
Caramba! Despojado e nu, ultrajado e aviltado, mas rei. Sim, rei. Um rei que vê quem vê na fé, não quem só quer ver o que quer.
Passou mais um ano.
Nós que somos desse rei encerramos esta semana mais um ano de fé. Estamos no Seu reino, porque nele entramos livremente pelo Baptismo. Fomos baptizados para sermos testemunhas sem medo e anunciadores intrépidos desse reino, não de outros mais brilhantes, reluzentes e vistosos.
Somos do reino do rei de verdade, e os demais fantoches. Reinam sobre o que passa, e humilhação das humilhações, sabem-no bem, também eles vão passando cedendo passo a outros, mais fortes e mais jovens, que vão chegando-se à frente do palco.
O nosso rei reina na cruz exangue e nu, mas mais digno que aqueles que com todas as insígnias douradas postas esmagam e aviltam. Não há, porém, outro reinar, nem palavras de outro feitio no testemunho dos cristãos. Só a humildade e a verdade nas palavras e nos actos.
É também réu. Assim O olhamos hoje.
Como réu de lesa divindade O levaram diante do poderoso e cínico Pilatos, o fantoche-lava-mãos.
Pilatos, homem poderoso e impante, julgou Deus, abaixado, rebaixado e vilipendiado. E acobardou-–se: Aí vo-lo deixo, como um réu!; e como tal foi posicionado pelos decisores do tempo no lugar que competia ao mais infame dos réus: na cruz, entre ladrões e malfeitores.
Eis o rei. Sim, Ele é rei e senhor dum mundo que O rejeita. Eis o réu! Sim, Ele é réu e aí está no lugar que lhe corresponde. É réu, está visto. Por isso leva com insultos, escarros e bofetões. Os soldados saúdam-no com vinagre; a populaça com sangue nos olhos: Salvou os outros a horas indevidas, e agora que precisa não lhe restam forças para Si. Enfim, olhando-O não há lugar para delírios. Por isso vão para outros as palmas e gritinhos; para Ele zombarias de uns e escassas orações de outros, mais sinceras quanto maior é o transe da aflição do momento.
Jesus é réu, por isso é rei fora do baralho. E foi assim que atiraram com o rei que salva para fora da vida. Por isso não há jogo que se complete, porque falta o rei. E agora que O puseram fora quem há-de ser o pastor?
A carta deitada fora é o réu, o rei que veio julgar o mundo. Fazendo-se um de nós Ele veio solidário connosco, tomou posse da nossa vida e leva-a aos ombros. É rei porque servidor. É rei porque tem trono. É rei porque prestou o maior serviço ao doar-se todo. É rei de visita ao seu reino, sem séquito oneroso e sem palanques, mas caminhando pelos caminhos da humildade. Sem palácio Ele é rei dos corações que vivem sem aspirar ao sucesso a qualquer preço, sem desejo de revestir-se de honras e prebendas.
Ele é rei e serve.
É réu e foi exaltado. É rei mas não por cobiçar coroas, pois as distribui no Céu.
Chama do Carmo I NS 85 I Novembro 21, 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Seminários, sementeira. Podemos falar de sementeira?

Inscrita na ideia de Seminário encontra-se a de sementeira. Seminário quer dizer sementeira. E promessa de colheita. O Seminário é o campo bom de terra boa onde a semente da vocação vai desabrochando, vai crescendo. A vocação não se esgota no crescer, mas no campo tantas vezes agreste e infecundo do mundo aonde é devolvida. Para aí se projectam as sementes que entretanto brotaram potenciando dons, qualidades e capacidades.

Seminário, sementeira. Onde estão as sementeiras? É expressão de Jesus no evangelho que as aves não semeiam, mas comem. E nós bem sabemos que além de outras elas comem das sementes que o lavrador semeia. Quem hoje come as vocações antes que cheguem aos Seminários?
A crueza é esta: os Seminários não existem. Ou pelo menos não existem como existiram: enormes, florescentes, fervilhantes de rapazes com vocação própria ou alheia. Em Portugal já não existem esses Seminários.
Embora a Igreja portuguesa ainda não prescinda do modelo actual — Não estamos nós a concluir a quase desapercebida semana de oração pelos Seminários? —, a verdade é que só aqui e ali resistem pequenos restos ou leiras, pequenas comunidades formativas com pequenos grupos em formação sacerdotal.
São geralmente casas gigantescas para grupos pequeninos. As necessidades e as casas são grandes, os formandos não. Antes laudava-se a profusão de sementes, digo, de vocações, que facilmente borbotavam aqui e ali, sem muito esforço. Falava-se então da alegria da sementeira e era certo, e até se podia escolher as sementes, separar trigo, aveia e jóio, apartar as razoáveis das excelentes. Hoje fala-se de sementeira, quase não de Seminários. Porque as que existem são muito raras, que não raro devem ser subtidas a cuidadosos tratamentos de fortalecimento.
São sementes, sim, de espigas chochas, como os dentes na boca de um velho! Mas, meu Deus, a verdade é que são sementes! São as que depois de duro e rude trabalho nos alimentarão!
Sobre Portugal estamos falados. É verdade que as fomes que se anunciam e a resilência das sementes que vão sendo suscitadas não nos deixam desistir. Aqui e ali, nalgumas Dioceses e Ordens Religiosas vão mantendo-se pequeninas leirinhas, promessas de pequeninas primaveras.
No Porto abriu há pouco o Seminário Missionário Redemptoris Mater de Santa Teresinha, com tão só 13 seminaristas. Não há-de ser azar!
Há outras sementeiras. Curiosas, já agora.
Em Vigevano, Itália, região da Lombardia, abriu um Seminário a meio tempo, de quarta a sexta--feira. Os rapazes dali são como os outros, e são seminaristas também, diz o seu reitor. Vão à escola pública, têm amigos e amigas, não vivem numa instituição fechada. Naqueles dias que passam no seminário rezam, estudam e jogam à bola embora não cheguem para duas equipas. E comem num refeitório grande. Enfim, parecem meninos com roupas de gigante. Nos dias em que não estão no Seminário ficam calmamente na família, para que com calma pensem no futuro.
No próximo Natal a diocese de Como, na região de Milão, vai iniciar o «Seminário dentro de casa». Um punhado de paróquias vai eleger uma casa (paroquial), e aí, na sua região e perto das famílias, viverão em comunidade durante três meses, procurando sempre evitar a ideia de mini--fábrica de sacerdotes.
Um pouco a sul de Habana, Cuba, abriu no dia 3 de Novembro o segundo Seminário da Ilha, o primeiro em mais de cinquenta anos! O presidente cubano Raúl Castro esteve presente! O edifício substitui um outro que fora retirado à Igreja, serviu como quartel militar e agora foi preparado para Seminário renovado. O seu reitor entrevê sinais de futuro e de esperança para a Igreja de Cuba. O Seminário poderá acolher até cem seminaristas!
Mas prova de que nem tudo é igual em toda a parte, leia agora e (talvez) sorria: Os Capuchinhos da Suiça publicaram nos classificados de um jornal suiço de referência pedindo banqueiros, comerciantes, advogados, jornalistas e professores que queiram mudar de vida. Deixam claro que devem ter disponibilidade integral, o dia inteiro, todos os dias da semana, inclusivé sábados, domingos e feriados. Em vez de salários altos a certeza da «liberdade de riquezas materiais», e tempo para actividades voltadas para a oração e a meditação. Esta curiosa caça de quadros refere também alguns critérios de aceitação: devem ser homens solteiros, de 22a 35 anos, com capacidade para viver em comunidade.
É uma nota final com humor. De facto, num mundo em mudança, até o Exército aboliu o serviço militar obrigatório e busca, desesperado, novas formas de sedução dos jovens!
Ainda podemos e devemos falar de sementeira, mas o certo é que estamos no Inverno. Pelo menos demográfico. Porém, se a família gelar o demais vai quebrar. Sabemo-lo?
Chama do Carmo I NS 84 I 14 de Novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Oração pelos Seminários

Semana dos Seminários

Semeia em mim, Senhor

Semeia em mim, Senhor.

Porque não quero deixar a Tua semente à beira do caminho;
Não quero que se afogue a palavra no meio das pedras;
Não quero a satisfação fácil de quem se limita a ouvir;
Não quero ser alguém sem raiz ou inconstante,
Alguém que hesita entre o sim e o não da conveniência.

Também não quero deixar-me cair entre os espinhos,
Porque conheço a minha fraqueza,
Porque, depressa Te venderia por um capricho
Porque conheço os meus oportunismos,
Porque me habituei a servir a dois senhores.

Que a tua palavra entre em mim pela porta grande,
Aquela que se abre aos amigos,
Aquela que oferece sempre à entrada o calor de um abraço,
Aquela que é esperança, alegria e festa para todos os que entram em casa.

Fala, Senhor
Quero conhecer os Teus caminhos.
Ensina-me as Tuas veredas.
Guia-me e ensina-me a Tua sabedoria!

Fala, Senhor.

domingo, 7 de novembro de 2010

Cuidar da sementeira!

No domingo 31 de Outubro a Al-Qaeda sequestrou os cristãos que se encontravam a rezar numa igreja de Bagdad; a sua libertação foi conseguida à custa de 50 mortes (um deles sacerdote) e 70 feridos. Entretanto, a Al-Qaeda tornou público que os cristãos do Iraque «são alvos legítimos» dos mujahidin. Em Israel, país de Jesus, os cristãos são espécie rara, muito rara. Estão mesmo em extinção. Como noutras veneráveis regiões.
É ainda recente o martírio dum sacerdote Carmelita na Índia; e de um bispo, algures num país árabe ou de influência árabe. Em muitos outros lugares onde o Cristianismo foi outrora verdejante e florescente já nada mais resta que vazio, pó e areia. Talvez me digam que enquanto configurados como sociedade somos sujeitos ao ciclo natural da vida. Talvez, mas isso não me conforma. Se outrora a história e a espiritualidade cristãs foram grandiosas e flamejantes e agora que se fechou o ciclo já não o são, isso não me conforma. E não me conforma porque o mandato do Senhor — «Ide e anunciai! — continua actual, vigente. E alguém tem hoje de o escutar. E de o levar. E de o transmitir.
O viço da sementeira vai esmaecendo. Havemos, porém, de cuidar dela com zelo. Para isso está, por exemplo, a Semana de oração pelos Seminários.
O que mais me surpreendeu no Guião que para ela nos prepararam, foi o tom confidencial com que o Papa iniciou a sua Carta aos Seminaristas. Conta ele:
«Em Dezembro de 1944, quando fui chamado para o serviço militar, o comandante de companhia perguntou a cada um de nós a profissão que sonhava ter no futuro. Respondi que queria tornar-me sacerdote católico. O subtenente replicou: Nesse caso, convém-lhe procurar outra coisa qualquer; na nova Alemanha, já não há necessidade de padres. Eu sabia que esta «nova Alemanha» estava já no fim e que, depois das enormes devastações causadas por aquela loucura no país, mais do que nunca haveria necessidade de sacerdotes. Hoje, a situação é completamente diversa; porém de vários modos, mesmo em nossos dias, muitos pensam que o sacerdócio católico não seja uma’profissão’ do futuro.»
Vivo com sacerdotes. Quase desde que me conheço que vivo com eles, qual Samuel. Se dos muitos que conheço lhes pedisse algo ‘vocacional’ para aqui escrever, poucos assentiriam. (Estranhamente os sacerdotes são muito relutantes em falar da sua vocação, do laço de sedução em que caíram, da paixão que os rendeu, do basilisco que os cegou, do porquê de continuarem ao serviço, valentes na peleja.)
Não assim o Papa.
(Até podia ser público, mas eu desconhecia aquele arrojo do jovem Ratzinger perante o seu jovem Comandante!)
O Papa com delicada singeleza revelou-nos a aspiração sacerdotal que lhe queimava o seu coração de jovem alemão alistado nas fileiras do exército nazi, e que ele não pode calar ao ser interpelado.
Poucos teriam a sua coragem.

Como escrevo no dia litúrgico de São Carlos Borromeu não posso esquecer que foi o Santo Arcebispo de Milão que criou os seminários e os fundou e fincou na ideia de sementeira. Se é necessário que o semeador semeie a semente da boa palavra, intuiu ele e bem, é também necessária uma boa preparação prévia impondo uma descida ao campo e dali apartar do duro amanho das terras aqueles que mais tarde, qualificados e ungidos, hão-de regressar para nova e mais fecunda sementeira.
Não há como não ver que os seminários se vão. Que as sementeiras vão esmaecendo. Aqui, ali e além as portas fecham-se e não se abrem, ou abrem-se não já para receber sementes!
Entretanto, a fome continua.
Sou dos que confiam que alguma solução há, de que o Espírito faz novas coisas velhas e do carcomido tronco faz brotar esperanças e viços. Entretanto, doem-me os seminários fechados e as sementeiras perdidas, as ovelhas cansadas, desorientadas e sem umas perneiras de restolho para mastigar. E dói-me o pouco jeito e o garrote da modéstia que nos impede de falarmos da nossa alegria de homens felizes e realizados, inventivos, criativos, audazes, generosos, entregues e oferecidos aos outros, à Igreja e a Deus.
É do Evangelho que a luz não é para esconder. Bem sei que não somos a luz do sol, nem talvez a da lua.
Mas algo iluminamos e a Luz apontamos.
E entretanto a tarde decai, a noite galopa, as sombras crescem, aumentam.
E semear segue sendo do mais belo que há, pois a semente pequenina guarda todos matizes da paleta da esperança.
Eu ainda cruzei a fronteira do tempo em que se rezava ao semear. Sei que o meu avó, descalço, se recolhia no rabo da leira mais larga. Era dali que se persignava e os demais calavam como quem respeita o dizer quase secreto de um patriarca bíblico. Só depois se dava a semeadura. Ora, se um rude e inculto labrego de Entre-Douro e Minho rezava antes de semear, e depois com denodo dali arrancava pão saboroso que todos os netos chegámos a provar, não haverá agora, quem bote as mãos e o coração em prece para que não feneça a semente dos seminários e jamais se esgote o Pão sobre os altares?

Chama do Carmo I NS 83 I 07 de Novembro de 2010

sábado, 6 de novembro de 2010

Homenagem a São Nuno

Hoje é dia de São Nuno, que se houve de pegar em armas para defender a Pátria, logo que pôde —  um logo longo! — as depôs e entrou descalço no Carmo. Vestiu o hábito de Nossa Senhora, Rainha da Paz e Estrela do mar, que ele amou e tratou de imitar. Amor e paz, caridade com todos e paz para com todos.
A sua memória perdura.
Hoje, no Castelo que em Neiva houve, um grupo de romeiros ali rezou em honra de São Nuno de Santa Maria. Depois, cinco deles rumaram ao Carmo pela Estrada do Castelo. Aqui chegadas rezaram, cantaram e confessaram-se. No fim o cronista teve tempo para as fotografar.
Para memória futura fica ainda um dos cânticos que dedicaram ao Santo:

São Nuno de Santa Maria
É com alegria
Que estamos aqui. (bis)
A Deus nós vamos rezar
E O vamos louvar
Por meio de ti. (Bis)

São Nuno, santo português
Que milagres fez
No meio de nós. (Bis)
E hoje, que é o teu dia
Com muita alegria
Erguemos a voz. (Bis)

Erguemos a voz a cantar
Para a Deus louvar
Por meio de ti. (Bis)
São Nuno de Santa Maria
É com alegria
Que estamos aqui. (bis)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

No dia 17 de Outubro, Domingo, o Grupo Coral de Santa Marinha, Marco de Canavezes, deitou pés à estrada e veio até ao Minho. Pararam aqui no Carmo e animaram a Eucarista das 11:30h. Que Deus os abençoe. Depois abriram os farnéis no Refeitório do Seminário e partilharam do bom e belo que aquelas terras do Tâmega dão. Porque o tempo estava bom, solarengo e convidativo, tiraram as violas do saco e botaram cantigas para alegrar as pedras seculares do Convento e os corações mortinhos por cantar e ouvir. Quem cantou, cantou bem; quem bateu palmas foi como ninguém. E depois das palmas a promessa de voltar para o ano com mais tempo. Assim seja.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Grupo de Crisma

 
Este é o Grupo de Crisma. Não é que fique apresentado, foi simplesmente a primeira vez que lá entrou uma máquina fotográfica. Na noite em que relançávamos os trabalhos apareceu-nos um artista (nas fotos a autografar os livros) que ofereceu um livrinho sobre o leigo carmelita italiano Aldo Brienza e a sua família, ninho de amor. A prendinha caiu bem e a presença do Hugo também.
A seguir veio o Pedro, namorado da Isabel, e o Rui, marido da Ana, vem sempre que pode. Quem vem a seguir?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Não morreram, adormeceram

«A vida não nos é roubada na morte, porque ela nunca foi nossa, nunca possuímos a vida como um bem pessoal que consquistamos por direito.» (Opúsculo Morreste-me, sdpc porto)

Solenidade de Todos os Santos

Um dia alguém lembrou ao Cardeal Ratzinger: «Afirmou uma vez que a Igreja hoje não precisa de novos reformadores, mas sim de novos santos que vem da vitalidade interior da própria Sé e que, por isso, descobrem de novo a riqueza da fé e o facto de esta ser indispensável.»

E o Cardeal Ratzinger respondeu: «Retomando primeiro os termos reformador/santo: cada santo é um reformador, na medida em que dá uma nova vitalidade à Igreja e também a purifica. Mas por reformadores entende-se, normalmente, pessoas que tomam medidas estruturais e que se movem, por assim dizer, no domínio das estruturas. E aí eu diria que desses, na realidade, não precisamos tanto nesta altura. Do que precisamos realmente é de pessoas que tenham interiorizado o cristianismo e que o vivam como felicidade e como esperança e que, assim, se tenham tornado pessoas que amam; é ao que chamamos santos.»