terça-feira, 29 de junho de 2010

Dia da Província

Ontem andámos pelo Buçaco. Foi Dia da Província. E em dia da Província todos — ou pelo menos todos os que podem — deixam os trabalhos e vamos caminhar juntos. Caminhar juntos significa rezar juntos, rir juntos, comer juntos, aprender juntos, crescer juntos. Ir mais uma vez ao Buçaco foi tudo isso e muito mais e tudo o que os corações guardaram.
A foto documenta o final da Eucaristia na Capela da Santa Cruz do antigo convento do Deserto do Buçaco. Antes já nos tínhamos ajuntado para ouvir uma conferência histórico-espiritual sobre o lugar.
A tarde foi preenchida e longa. Particularmente saborosa foi a caminhada pela Mata do Buçaco seguindo os Paços da Prisão de Jesus que ali foram inscritos pelos nossos antigos e que ainda ali se mantêm.

A propósito duma conferência em fim de Ano Sacerdotal

No passado dia 15 de Junho realizou-se no Convento do Carmo pelas 21h uma conferência proferida pelo Pe. Pablo Lima, pároco diocesano na paróquia de Serreleis Viana do Castelo.
No termo do ano sacerdotal reflectir connosco, uma sala cheia de leigos, e os Padres Carmelitas da comunidade, a razão e a finalidade desta decisão do Papa. Tema: “Vós sois um sacerdócio real”(1Pe 2:9) Carta de Pedro escrita por Silvano, escrivão de Pedro, à volta do ano 67.
No desenvolvimento do tema o Pe. Pablo base-ou-se na primeira Carta de S. Pedro; na Carta de proclamação do Ano Sacerdotal do Papa Bento XVI; num texto da Primeira Apologia de S. Justino (séc. II) sobre o Batismo de regeneração; num texto de João Paulo II - Ecclesiam de Eucharistia, nº 21 e na homilia de Bento xvi aos sacerdotes reunidos na Praça S. Pedro, no dia 11 Junho 2010.
Porquê a decisão do Papa em determinar um ano de oração pelos sacerdotes e com eles?
1º- Os 150 anos da morte de S. João Maria Vianney (1786 – 1859), pároco de Ars, diocese de Belley – Santo Patrono de todos os párocos do mundo. Foi pároco 42 anos em Ars, onde com uma eficaz pregação, mortificação, caridade e oração, atraiu e converteu um grande número de pessoas. Revelou dons especiais na administração do sacramento da Penitência e na direcção espiritual.
2º- Apelar “à renovação interior dos sacerdotes”, pretendendo atingir “um testemunho evangélico mais vigoroso e incisivo” (Bento XVI).
3º- A falta de credibilidade crescente pelos escândalos ocorridos na Igreja.
4º- Aprofundamento da vocação sacerdotal de todos os batizados. Cooperação ministros orde-nados e fiéis leigos.
Em que consiste ser “um sacerdócio real”?
“Vós sois linhagem escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo resgatado a fim de proclamar as maravilhas Daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável.”
Cada um de nós foi resgatado ao mundo das trevas pelo sacramento do Batismo. São Justino no seu texto O Batismo de Regeneração fala-nos do nosso primeiro nascimento segundo a lei da natureza, e dum segundo nascimento fruto de uma escolha livre e consciente, que nos conduz ao Batismo pela água para nossa regeneração e perdão dos pecados cometidos; sendo este antecedido por penitência. Sobre aquele que é batizado pela água é pronunciado o nome do Criador e Senhor Deus de todas as coisas: “A este Batismo dá-se o nome de Iluminação porque os ini-ciados nesta doutrina ficam iluminados na sua inte-ligência.” (S. Justino, Ap.1,61,12)
Assim sendo “todos os batizados fiéis leigos e fiéis ordenados” estão ligados à “proclamação das maravilhas de Deus… …aproximando-vos Dele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus, também vós – como pedras vivas – entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.”(1Pe 2:4-6) E ainda: “Exorto-vos ir-mãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agra-dável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto, o espiritual.”
(Rom 12:1)
Impõe-se uma chamada ao sentido da palavra sacrifício – (sacrum facere, que significa fazer sa-grado ou consagar, isto é, devolver à propriedade de Deus. E ao sentido da palavra corpo isto é, vi-da, como acto de louvor e entrega. Nesta lingua-gem está bem presente a passagem do Antigo Testamento para um Tempo Novo com Jesus. O fim das ofertas materiais exteriores a nós, e o convite a nos ofertarmos.
Com o Batismo estamos conscientemente a de-volver a Deus – a deixar-se consagrar – aquilo que é Dele: a nossa vida, e tudo o que nela está contido. E na Eucaristia o cristão associa a hóstia viva da sua vida no dia-a-dia à Hóstia consagrada do Corpo de Cristo que vai receber na comunhão, de modo a que se transfigure toda a existência e assim se transforme o mundo segundo o Evan-gelho.
Em jeito de conclusão refiro alguns excertos da homilia de Bento XVI aos sacerdotes a 11/06/2010: “Deus como Bom Pastor precede-nos e guia-nos. O Senhor mostra como se realiza de forma justa nosso ser homens. Ensina-nos a arte de ser pessoa. Em um momento histórico no qual Deus parece distante e inalcançável cada cristão e cada sacerdote deveriam transformar-se, a partir de Cristo, em fontes que comunicam vida aos demais. Deveríamos dar a água da vida a um mundo sedento.”
Maria Tereza H. de Gouveia

Chama do Carmo I NS 76 I Junho 27, 2010

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Visita da Paróquia de Avintes

Nós somos do Padre José Augusto, sabe quem é? Eu não sabia, apesar de ter a minha idade e termos frequentado os mesmos corredores da Faculdade de Teologia.
Agora que voltaram e trouxeram o P. José Augusto eu já sei quem ele é, e dá para ver a razão do orgulho da Paróquia no Padre! Depois dos abraços lá visitámos o Convento, Igreja e antigo Seminário conforme solicitação prévia que tanto me enterneceu. Franqueei as portas e expliquei o melhor que pude. Também rezamos depois de passarmos por um banho de história. Gostaram. Dizem que é um bom lugar para fazer retiros da Catequese. eu Também acho. Aqui se pode fazer uma boa iniciação como quem inicia altos vôos. Ficamos pois à espera de mais uma visita. E agradecemos as duas anteriores.
Muito obrigado, P. José Augusto, pela tua visita. Afinal de contas já iam quase 20 anos sem nos vermos!
Muito obrigado pela bem disposta visita que nos fizeram! As brisas do Lima e a Senhora do Carmo esperam de novo por todos vós!

domingo, 27 de junho de 2010

XV Encontro dos Ex-seminaristas - Geração 80/90

Dando continuidade à iniciativa que brotou em 1995, no dia 26 de Junho passado, os ex-seminaristas posteriores ao 25 de Abril (embora tenha sido apelidada “geração 80/90”, integra também elementos que entraram em 1974-75), realizaram o seu encontro anual, este ano o 15º.
Com vem sendo hábito, o evento teve dois momentos distintos:
Num primeiro, na Quinta do Menino Jesus, em Deão, o grupo aproveitou para confraternizar à volta da mesa e nos belos espaços, não faltando um derby futebolístico para relembrar os tempos áureos em que este desporto era rei.
Num segundo momento, dirigimo-nos para o Seminário, onde celebrámos a eucaristia, à boa maneira das celebradas “no nosso tempo”, seguindo-se o jantar-convívio.
Para encerrar o encontro procedeu-se à reflexão e planeamento do próximo.
Desta reflexão, para além da decisão de dar continuidade à iniciativa no próximo ano, gostaria de salientar alguns aspectos: em primeiro lugar, a grande satisfação de todos os presentes pela oportunidade de participação e a convicção da continuidade; em segundo lugar, a saudade expressa pela maioria, relativamente aos que não puderam estar presentes e que gostariam de rever; em terceiro lugar, o agradecimento unânime à comunidade de Viana pela disponibilização do espaço e pela amizade dispensada na pessoa do seu prior; por último, um agradecimento especial ao Pe. Carlos, pela sua amizade e disponibilidade, demonstradas em variadíssimos momentos, pelo seu empenho e dinamismo para que estes encontros sejam possíveis, “especiais e inesquecíveis”, apoiando e incentivando a equipa organizadora e todos aqueles que marcam presença.
Para que conste e possa servir de estímulo a alguns ausentes, aqui ficam os nomes dos participantes deste ano:
Joaquim Manuel Costa, Saúl Matos de Castro, João Filipe Castro, Eugénio Afonso, Fernando Barbosa, Luís Alberto Vieira, Eduardo Martins de Sousa, Vítor Manuel Teixeira, António José da Silva, António Sales, João Alves de Sousa, José Manuel Gemelgo Reis, Frei João Costa, Pe. Carlos.
Até 2011.
José Manuel Gemelgo Reis

Mais movimento

Foi um belo dia, uma jornada bem passada. Foi sem dúvida mais uma razão a justificar o agitado fim de semana do Carmo. Damos agora notícia da presença do Carmo Jovem, mais concretamente dos Peregris, os peregrinos do Santuário de Fátima que vieram ver se as bolhas estavam curadas, rever fotos de passadas bem dadas.
Claro que não estavam todos, pois alguns se reservaram para o dia 3 quando despediremos a Raquel. Até lá.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O valor da Cruz

O papa Bento XVI centrou a meditação do Angelus do passado domingo 20 de Junho na importância de levar própria cruz, tanto nas pequenas provas de cada dia como nos momentos decisivos.
“Tomar a cruz significa se comprometer em derrotar o pecado que obstaculariza o caminho para Deus, acolher quotidianamente a vontade do Senhor, fortalecer a fé sobretudo ante os problemas, as dificuldades, o sofrimento”, afirmou o Papa.
Bento XVI citou a santa carmelita Teresa Benedita da Cruz, admirando seu testemunho “em um tempo de perseguição”, quando afirmava, pouco antes da Segunda Guerra Mundial: “mais se faz obscuro ao nosso redor, tanto mais devemos abrir o coração à luz que vem do alto”.
“Também na época actual, muitos são os cristãos no mundo que, animados pelo amor de Deus, assumem cada dia a cruz, seja a das provas quotidianas, seja a da barbárie humana, que às vezes requer o valor do sacrifício extremo”,
afirmou.
Por isso, é importante “pôr sempre nossa sólida esperança n’Ele, seguros de que, ao segui-lO levando nossa cruz, chegaremos com Ele à luz da Ressurreição”.

sábado, 19 de junho de 2010

Por que é que a santidade não é popular?

Junho em Portugal é festa. Festas populares. Dizem que é por causa dos santos. Qualquer comunidade descobre motivos para se reunir à volta das sardinhas assadas e dos pimentos, dos mangericos e das concertinas, dos bailaricos das ruas, das fogueiras e dos balões que sobem ao ar. Dizem que quem puxa pela nota são os Santos Populares: Santo António, a 13; São João, a 24; e São Pedro a 29.
Mas porque são estes os Santos Populares, e, por exemplo, não o é o sisudo São Paulo, que também se celebra no mesmo dia de São Pedro?
Estarei longe de considerar que são os comes e os bebes, os farnéis e os tonéis, que popularizam um Santo. Bem entendido que não. Mas também entendo que uma barriguinha melhor aconchegada encontra mais razões para bendizer e cantar o Santo, que uma vazia. Por alguma razão se diz que o Evangelho não se prega a barrigas vazias. Ora, se o calendário litúrgico posicionou os três Santos Populares no tempo da sardinha gorda e do calor das pré-férias, isso é certo que no mínimo os torna mais nomeados.
A questão, porém, é mais funda. Por que existem Santos que não são populares como Santo António, pobre frade franciscano; João Baptista, austero pregador do arrependimento; e Pedro, o rude pescador impulsivo e autoritário do Mar da Galileia?
É certo que em vida eles atraíram multidões, e também é certo que nada havia nelas que saciasse as multidões amantes do regabofe e da tamanquinha a dar a dar.
A questão é ainda mais radical: que fazer com os Santos cuja santidade nos inspira hoje repugnância mais que desejo de imitação e de seguimento? Que santidade haveremos de promover: a dos Santos da sardinha assada, a dos Santos de vida esquisita, ou outra? E qual outra? Ou será que a santidade não mais será popular sem sardinhas, concertinas e vinho?
A primeira resposta é que sim, que Deus, o Pai, fonte de toda a santidade nos quer santos. Que o Baptismo nos inscreve no caminho ascendente da santidade. Que Deus não excluiu ninguém do seu plano de santidade, que é o universal plano da salvação. A santidade não é portanto para minorias eleitas, mas para a totalidade dos filhos. De Deus.
E mais: o ideal do combate pela santidade foi entretanto abandonado por um outro. Pelo do abandono e confiança. (Obrigado, S. Teresinha!) Dito de outro modo: já não é santo apenas quem quer que se afoite no combate, mas quem deixa. Tempos houve em que só se propunha o caminho da santidade a quem se oferecesse para a mais dura e cega batalha contra si mesmo. Só quem se dispusesse a uma irredutível ascese poderia ser galardoado com a medalha e a coroa da santidade. (E que bem que alguns as exibiam sem que a verdade vivida interiormente condizesse com o manifestado! ) Mas não. Hoje não assim. A proposta de santidade a que nos desafiamos é a de confiar em Quem nos inspira os desejos santos, que Quem os inspira também dá a força e garra para voar aos mais altos cumes.
A santidade é para todos, mesmo os não baptizados. Todos, até os maus. Todos os que fazem da sua vida uma vida consentida, uma vida com sentido de absoluto. Nada em nossa vida tem elevação de totalidade e infinito se a não inscrevermos no sentido e orientação de Deus, se a não depusermos em suas mãos, se, confiando menos em nós, e mais nEle, lha não confiarmos a fim de que faça o que não saberemos ou jamais alcançaremos fazer.
A santidade é para essa imensa maioria que ninguém pode abranger com o olhar nem contar com matemáticas humanas. É para quem estiver disponível para aceitar a sua pequenez e fragilidade, a sua dependência, a sua sede da frescura da Fonte Eterna que mana e corre mesmo de noite.
Por que não é hoje simpática e popular a ideia da santidade? Ora, porque já não é popular a ideia de ascese e ainda não se divulgou a ideia da confiança. Uma exige combate, a outra abandono. Enfim, poucos são os que querem suar as estopinhas e ainda são poucos os dispostos a reconhecer a sua fraqueza e confiar em Quem tudo pode. Sim, quem é que neste mundo de dura brega competitiva aceitará facilmente a ideia de se apoiar e abandonar, mesmo que seja a Deus? Ideia por ideia, é sempre mais aceitável ser da equipa dos rijos guerreiros que da dos meninos fraquinhos. Ora se a proposta de santidade passa hoje por aceitar a pequenez e a fragilidade pessoal em contraponto à grandeza espiritual antes elogiada e promovida, não vejo que seja ideia que venha a tornar-se muito popular. Não sei de um pai que seja com gosto de ensinar um filho a ser um zero, mesmo dizendo-lhe que o zero pode (vir a) ser um milhão, espécie de combóio onde como se sabe, há lugar para muitos zeros!
No ADN espiritual que nos configura está-nos inscrita mais a ideia de luta pela superação dos limites, que a sua aceitação pela serena entrega a Quem nos ama apesar deles, e assim nos quer para Ele. Não é de todo popular a ideia de se ser santo, mas é esse o caminho e a meta para que tendemos. Tal projecto encontra em cada um de nós um lugar para florescer e pernas para andar: pois mal vale estar carregado junto de quem é o forte, que livre junto dum fraco.
Chama do Carmo I NS75 I Junho 20, 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

II Encontro dos acólitos carmelites na Figueira da Foz

Neste segundo encontro dos acólitos carmelitas do Norte encontramos nos no Carmo da Figueira da Foz, no dia 12 de Junho.
Iniciou-se o encontro com um momento de oração e reflexão sobre a parábola dos talentos. Continuou-se com uma apresentação sobre o tema do encontro “Ser acólito na família e na comunidade” depois da qual dividimos nos em grupo para discutir acerca da apresentação como por escolher o futuro escudo dos Acólitos Carmelitas Descalços(resultados a aparecer no blogo dos acólitos carmelitas, http://acolitos.carmelitas.pt/blog).
A seguir deu-se o momento de convívio do almoço partilhado, entre todos os membros presentes que continuou com uma caminhada até ao parque da cidade do Porto no qual foi realizado um jogo “o que é?”, sobre a apresentação que tinha sido dada de manhã.
O encontro a tardinha, acabou-se com um lanche no Carmo.

Noites do Carmo, parte II

No Carmo a noite é especial. Não é de agora, nem só daqui. Vem de longe, de longa tradição. Por isso, o título Noites do Carmo é sempre apelativo. No nosso caso, significa prelecção, reflexão, partilha. Foi o que sucedeu na noite passada, a do dia 15.
Pelas 21:30h o Pe. Pablo Lima, Pároco de Serreleis, tomou a palavra para nos ajudar a reflectir sobre o Ano Sacerdotal findo, mas que parece ter no ventre ainda muito por cumprir. À sua conferência deu o título «Sois um sacerdócio real». E foi falando com calor na voz e apelo de alma a que o seguíssemos. E seguimos. E saímos todos mais confortados e confirmados no sacerdócio que recebemos no Baptismo a fim de sacrum facere todas as coisas, toda a nossa vida. Sempre muito acutilante, denunciou os que rapidamente despem o casaco cristão e o vestem no Domingo seguinte e apelou a que sacerdotes e leigos, todos sacerdotes, se animassem mutuamente a viver a vocação à santidade e o compromisso com o mundo.
Parecendo que vivemos uma pastoral de poupança, animou a que a minoria que vamos sendo nos tornemos numa «minoria criativa» que fermenta esta sociedade pós-cristã em que vivemos. O labor missionário é um direito e um dever de todo o cristão, a fim de se construir pedra a pedra, a minha e a tua, o edifício da Igreja que se encontra em permanente construção.
Ser cristão é fantástico! Ninguém está dispensado de o descobrir. Talvez por isso, disse a terminar: «O Ano Sacerdotal apenas começou.»
Quer venha ou não a ser proclamado um Ano Laical, o P. Pablo prometeu regressar para, juntos, reflectirmos sobre o laicado cristão, porque somos «um Cristianismo que precisa de aprender muito.»
Assim seja, muito obrigado.

sábado, 12 de junho de 2010

Três pecadores, muitos pecadores, um Salvador!

A Palavra de Deus deste Domingo XI do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão sobre o pecado, essa frieza de vida e de alma que se revela em distanciamente e ruptura com o projecto de Deus.
O grande rei David, o rei por excelência de Israel, foi, afinal um grande pecador. Paulo, o apóstolo evangelizador das gentes, fora no passado um assanhado perseguidor de tudo o que cheirava a Cristo. Simão, o fariseu, é tão cumpridor que a sua vida é fria e distante de Deus como o pecado. E a prostituta, pecadora pública que tantos frequentaram, é, afinal, a mulher do amor verdadeiro, sincero e vertido a Jesus. Hoje falamos de três e de muitos pecadores, e um salvador: o Amor, Jesus!

REI DAVID
O Rei David foi o segundo, não o primeiro rei de Israel. É o mais conhecido de todos os reis israelitas, é o ideal e modelo da sua realeza, amigo de Deus, salmista e profeta. E pecador!
Cometeu adultério com Betsabé — de quem nascerá o rei Salomão —, a esposa do General Urias, a quem David mandará matar ardilosamente. Foi um pecador repugnante não tanto por se ter apaixonado, mas sobretudo pelos meios usados. O profeta Natan não lhe poupou nas palavras e acusou-o duramente.
David reconheceu, arrependeu-se sinceramente e propôs-se ser por toda a vida um cantor das maravilhas de Deus, o defensor da Lei e do Templo.
Hoje, no Salmo 31, respondemos a Deus, como David: «Perdoai, Senhor a minha culpa e o meu pecado!»
Natan respondeu: «O teu pecado já foi perdoado.»

PAULO
Paulo perseguiu cristãos, encarcerou cristãos e muito provavelmente também os matou. E colaborou no assassinato de Estevão, diácono, primeiro mártir, e seu colega de estudos superiores judaicos, entretanto convertido à causa do Evangelho de Jesus.
A morte de Estevão foi duma requintada crueldade: por apedrajamento! Paulo sem qualquer dor de consciência guardou as capas dos que carregaram e atiraram pedras a Estevão. Nem por uma vez vacilou e até julgou ser essa a decisão e missão certa.
Ao partir em perseguição para Damasco Paulo teve de atravessar a porta da muralha, onde fora perpetrado o assassinato de Estevão. Não teve remorsos, antes espicaçou ainda mais a montada. Às portas de Damasco veio a cair do cavalo e ficou cego, porque, afinal de contas, faltava-lhe aprender a ver a novidade da luz de Cristo, Aquele a Quem perseguia na pessoa dos Seus seguidores.

A PROSTITUTA
Por fim, a Palavra de Deus deste Domingo fala-nos duma mulher, uma prostituta de todos conhecida, que, corajosa, entra na casa de Simão, o fariseu, rastejando até Jesus que se encontra a refeiçoar, banha-lhe os pés com lágrimas, enxuga-lhos com os cabelos e perfuma-os delicadamente.
Não sabemos o nome daquela mulher legalmente impura, nem sabemos a relação que com ela tinha o respeitado Simão. Mas sabemos do amor dela para com Jesus, o profeta, e como O ungiu com o seu perfume. A sua delicadeza e diaconia como que antecipou o lava-pés de Quinta-feira Santa, e talvez por isso tão mal cheirou ao nariz do delicado fariseu.
Ele lá saberá porquê!
Ambos os pecadores saem absolvidos.
A Palavra de Deus é sempre um espelho oportuno; delicadamente ela ilumina a nossa vida e apela para a conversão. Perante ela David exclamou: «Eu pequei»; Paulo estremecido pela força que dela vem mudou de perseguidor em evangelizador; e o fariseu reconheceu a dureza do seu coração. Ele que começara por ostentar o estatuto de cumpridor mostrou nada saber sobre o amor verdadeiro: convidara Jesus para uma refeição, mas rejeita-lhe a hospitalidade recebendo-o friamente, como um tacanho sem delicadeza.
No fim de contas, a verdadeira relação com Deus não é que Deus esteja de acordo com as normas e preceitos a que me determinei cumprir. A religião não é um acumulação de pontos no cartão, como se Deus nada nos tivesse que corrigir e perdoar, pois, nós, cada um de nós, novos fariseus, cumprimos na perfeição a tarefa que nos corresponde.
Sim, a prostituta é que revelou ter o verdadeiro amor. Ela ensina-nos o rumo ao revelar-se atenta e cheia de cuidados para com Jesus. Simão, o perfeito modelo, mostrou-se um espião frio e distante. Mas com ela aprendemos a amar Jesus.
Sem medo aproximemo-nos d’Ele, sintamo-nos bem com Ele, façamos d’Ele o centro da nossa vida: E é que não existe outro centro! Não existe outra forma de amar! Se nos aproximamos Jesus revela-se amor e perdão, cura e salvação que não se compram com grandes obras; aliás, cuidado se te limitas a cumprir!
A salvação vem do convívio com Jesus até alcançarmos dizer a confissão de Paulo: «Já não sou eu que vivo, é Cristo vive em mim!»
Chama do carmo I NS 74 I Junho 13, 2010

Novas visitas

Há já muito tempo que não dávamos conta das visitas à Comunidade. Comecemos pelas mais antigas. Ao findar do dia 19 de maio visitou-nos a Comunidade bem disposta das Carmelitas Missionárias de Faro. Agradecemos a visita, já será mais difícil retribuí-la.
No dia 29 visitou e almoçou connosco o Professor Ander-Egg. Veio do outro lado do Atlântico, das pampas argentinas. é octogenário e promete viver até aos 120 anos. Já não vê um médico há mais de 40 anos se não para lhes dar bons conselhos. Também vai ser difícil visitá-lo mesmo que viva os desejados 120 anos!
No Dia de Portugal aproveitando o feriado visitaram-nos o P. Agostinho Castro e Frei Marco Caldas juntamente com um animado grupo de jovens leigos, da Comunidade do Carmo de Braga. A estes irmãos será mais fácil visitá-los e nem precisamos de convite.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Saudação à Diocese

Caríssimos Diocesanos de Viana do Castelo,

“Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do Céu nos abençoou, com todas as bênçãos espirituais em Cristo!”

É nestas palavras de São Paulo (em Ef 1, 3) que encontro a melhor expressão para o que sinto neste momento, o primeiro em que tenho a alegria de me dirigir a vós:
Bendito seja Deus pela bênção que acaba de conceder-me, através de Sua Santidade Bento XVI: a de me achar digno de vos servir, pelo ministério episcopal que, por via apostólica, me vem de Jesus Cristo, o único Sumo e Eterno Sacerdote. E que esta graça, oficialmente, me seja comunicada no dia em que encerramos o ano sacerdotal, celebrando o amor inesgotável do Sagrado Coração de Jesus, o Bom Pastor que tudo faz pela vida das suas ovelhas, é mais um motivo para dar graças.
Bendito seja Ele, o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela Diocese que me confia, sucedendo a tão dedicados pastores, todos eles ainda vivos: Dom Júlio Tavares Rebimbas, Dom Armindo Lopes Coelho e, por último, Dom José Augusto Martins Fernandes Pedreira, ainda à sua frente como Administrador Apostólico. Que o Senhor os conserve por largos anos e que eu possa aprender deles e conhecer-vos e a amar-vos com o coração do Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas.
Bendito seja Deus pelos sacerdotes que me concede para, como membros do Presbitério, mais directamente comigo colaborarem na missão de ensinar, santificar e governar a porção do Povo de Deus por vós constituída. Agradeço-lhes desde já o muito que irei aprender deles e com eles. Da minha parte, tudo farei para que sejam felizes no fiel cumprimento da sua missão, em total comunhão com a Igreja de Jesus Cristo, de cujo sacerdócio têm a graça de participar, comigo e como eu.
Bendito seja Deus pelas religiosas e pelos religiosos, muitos deles também participantes do sacerdócio ministerial de Jesus Cristo, e ainda por tantos outros cristãos especialmente consagrados ao Senhor e à sua Igreja. Quantas bênçãos lhes deveis, no passado e no presente, e quantas certamente continuaremos a receber por meio deles, fruto da sua radical entrega ao Senhor e exemplar dedicação à Igreja e à Sociedade.
Bendito seja Deus pelos seminaristas, futuros participantes no sacerdócio ministerial de Jesus Cristo e, como tal, também eles futuros garantes da vida cristã na Diocese. Em todos, os que ainda residem no Seminário situado na Diocese e os que vivem no Seminário da Arquidiocese de Braga, onde frequentam o curso de Teologia do Centro Regional da Universidade Católica, depositamos as maiores esperanças. São, por isso, merecedores do especial acompanhamento de pai e pastor que procurarei prestar-lhes.
Bendito seja Deus por todos os cristãos leigos, de todas as idades e condições, membros do povo sacerdotal que é a Igreja de Jesus Cristo e, tantos deles, colaboradores generosos e qualificados nas diversas actividades pastorais da vida diocesana. Quanto bem todos eles podem realizar, na Igreja, na família e nos meios sociais e laborais em que vivem e trabalham ou estudam, dando testemunho corajoso e interventivo da sua fé em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Bendito seja Deus por todos os habitantes do território em que está situada a Diocese ou que, por qualquer laço, a ele estão ligados. Quanto desejo conhecer a vossa cultura. E que Deus me ajude a contribuir para a resolução os vossos problemas, sobretudo os das mais variadas formas de carência. Espero, para isso, e com os meios específicos do meu múnus, poder colaborar, sobretudo, com os detentores da autoridade civil e, como tal, mais responsáveis pelo bem das populações.
Bendito seja Deus por tudo o que aprendi e vivi nos cinco anos em que servi o Patriarcado de Lisboa, sob a orientação do seu Bispo, o Senhor Cardeal Dom José da Cruz Policarpo, e em colaboração com todos os outros Bispos Auxiliares. Quanto eles me ensinaram a ser Bispo, juntamente com os sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas e outros consagrados e ainda tantos leigos, especialmente na Região Pastoral do Oeste que mais de perto acompanhei.
Bendito seja Deus, finalmente, pela firme esperança de continuar a ter muitos motivos para O bendizer. Conto, para isso, com a vossa oração. Que o Senhor me ajude a pôr a prática o que Ele exige e espera de quem O segue, como mediador do seu poder redentor: “Quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se escravo de todos” (Mc 10, 44).
Peço, para isso, a intercessão da Virgem Santa Maria, padroeira da nossa Diocese, que se tornou Mãe de Deus e da Igreja, pela mesma radical entrega de fé: “Eis a escrava do Senhor: faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1, 38).
Foi também do seu coração que brotou o hino de bênção ao Senhor, motivado pelos resultados salvíficos dessa entrega – o Magnificat que todos poderemos entoar, quando, a 15 de Agosto, entrar solenemente na Diocese, em plena festa de Santa Maria, nossa Mãe e Protectora.
Até lá, que o Senhor continue a cumular-nos das suas bênçãos.

Lisboa, 11 de Junho de 2010
Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, e encerramento do Ano Sacerdotal

+ Anacleto Cordeiro Gonçalves de Oliveira, Bispo Eleito de Viana do Castelo

D. Anacleto Oliveira é o novo bispo de Viana do Castelo

A Santa Sé anunciou hoje a nomeação do bispo auxiliar de Lisboa, D. Anacleto Oliveira, como o quarto e novo bispo da Diocese de Viana do Castelo.
D. Anacleto nasceu na freguesia das Cortes, Leiria, no dia 17 de Julho de 1946. Tem 63 anos.
foi ordenado sacerdote no dia 15 de Agosto de 1970.
Foi capelão dos emigrantes portugueses em Munster, Alemanha.
Foi nomeado bispo titular de Aquae Flaviae e Auxiliar do Patriarcado de Lisboa no dia 4 de Fevereiro de 2005.
É licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana, Roma (1971).
É licenciado em Ciências Bíblicas pelo Instituto Bíblico de Roma (1974).
É licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1977)
É doutorado em Exegese Bíblica pela Faculdade de Teologia Católica da Universidade de Westfälischen Wilhelms-Universität de Münster, Alemanha (1987).
Foi Professor de Exegése Bíblica no Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra (1974-1977).
Foi Professor de Exegese Bíblica no Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra, no Seminário Diocesano de Leiria, na Escola de Formação Teológica de Leigos de Leiria e na Faculdade de Teologia (Lisboa) da Universidade Católica Portuguesa desde 1988
É Presidente da Comissão Directiva do Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra, desde 2001.
Seja bem-vindo à nossa Diocese de Viana do Castelo. Desejamos-lhe longa vida e frutuosa actividade pastoral sob a moção do Espírito Santo. Que Nossa Senhora do Carmo o cubra com o seu manto e sempre o acompanhe na seu múnus pastoral.

Lema episcopal do novo bispo de Viana do Castelo: «Escravo de todos»

1. Receio que estas palavras, que escolhi para lema do meu ministério episcopal, possam ser, para alguns, senão mesmo chocantes. Não um escravo precisamente aquele que está privado dos bens mais fundamentais para a dignidade da pessoa humanidade, como são a liberdade e, com ela, o direito de propriedade? E para mais com a agravante de ser ilimitado o número daqueles aos quais se pertence.
É por isso imprescindível que o lema seja visto no seu contexto original, o de Mc 19, 35-45. Aproximaram-se dele Tiago e João, os filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: «Mestre, queremos que nos faças o que te pedimos.» Ele disse-lhes: «Que quereis que vos faça?» Eles disseram: «Concede-nos que nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda na tua glória.» Mas Jesus disse-lhes: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber ser baptizados com o baptismo com que Eu sou baptizado?» Eles disseram: «Podemos.» Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que eu bebo e sereis baptizados com o baptismo com que Eu sou baptizado; mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não pertence a mim concedê-lo; é para aqueles para os quais está preparado».
Tendo ouvido isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João. Depois de os chamar, diz-lhes Jesus: «Sabeis como aqueles que se julgam chefes das nações dominam sobre elas e como os grandes têm poder sobre elas. Mas entre vós não é assim: quem quiser tornar-se grande entre vós, será vosso servo, e quem entre vós quiser ser o primeiro, será escravo de todos. Porque também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.»

2. Servo é a tradução do grego “diákonos”, de que provém diácono, um termo porém, na origem, com um uso muito mais alargado do que tem hoje entre nós. Genericamente, diácono era aquele que fazia de mediador entre duas ou mais pessoas: a que o chama e envia e aquela (s) a quem é enviado. Uma missão só realizável mediante uma total sujeição: em primeiro lugar e acima de tudo à pessoa que envia, de tal modo que ela se torna presente e actuante no seu enviado; sujeição, por isso mesmo, também àquilo que tem de transmitir, para que chegue sem perdas nem deturpações ao seu destino; sujeição finalmente aos destinatários da diaconia, sobretudo se o que recebem é para seu bem.
Com escravo (“doulos” em grego) apenas se explica e acentua a total dependência já inerente à condição de diácono. Para Jesus, a condição identificativa da comunidade dos seus discípulos. Deles exige uma total sujeição, que é tanto maior quanto mais elevada for a autoridade que exercem; uma sujeição não apenas aos restantes discípulos, mas sem limites de destinatários. Porquê?

3. Como mostra o final da passagem bíblica, o próprio Jesus define a sua condição e missão messiânica em termos de diaconia. E também ela na tríplice relação de total dependência, no seu caso associada já ao título de Filho do Homem.
Na origem e acepção mais comum, Filho do Homem era um simples ser humano. Mas, a partir da visão de Dan 7,13, passou também a significar na tradição bíblica aquele que vem com as nuvens do Céu, isto é, de Deus (Mc 14,62). Alguém, portanto, de origem e condição ao mesmo tempo divina e humana: Aquele em quem Deus mais se une aos homens, para, mais, do que ninguém, unir os homens a Deus.
Uma missão que Jesus realizou enquanto não veio para ser servido, mas para servir. A Deus e aos homens. A Deus a quem, qual Filho muito amado, tratava por Abba, um termo expressivo da máxima intimidade e dependência, no fundo a mesma do diácono. Aos homens, na medida em que, sendo de condição divina, se esvaziou si mesmo, tomando a condição de escravo (Fil 2,6-7); a condição em que foi provado em tudo como nós, excepto no pecado (Heb 4,15), para dele nos libertar: de um modo decisivo pela morte na cruz.
Foi então que Ele, em completa obediência ao Pai, lhe entregou o seu Espírito, a fonte da sua vida (Lc 23, 46; Jo 19,30). Não porém, sem antes lhe pedir perdão para os que o matavam (Lc 23,34). E neles para toda a humanidade. Foi em resgate por todos que Ele deu a vida. Porque a deu como justo pelos injustos (1 Ped 3, 18). Transformando assim a maior injustiça no acto da maior justiça, da máxima união a Deus e aos homens. Para os conduzir para Deus, num amor sem medidas, aquele de que só Deus é capaz.
E por isso Deus o exaltou e lhe deu o nome está acima de todo o nome: o de Senhor (Fil 2,9.11) . Isto é, foi na morte que Jesus também mais encarnou o objecto da sua missão: o Evangelho do Reino. Ao vencer a morte e tudo o que a ela conduz, tornou-se definitivamente para integrante do Reino de Deus. E, como tal, conteúdo do Evangelho. Mas sem deixar a condição de servo e escravo. Mostrando as mãos e o lado de Crucificado é que Ele, o Ressuscitado, apareceu aos seus, lhes transmitiu a paz, a que nasce do perdão, e os constituiu enviados seus, mensageiros do perdão para sempre obtido na cruz (Jo 20, 19-23).

4. Foi dele que assim nasceu e assim vive a sua Igreja: pela fé de cada um. A fé que é obediência, isto é, entrega livre e total a quem se entregou todo por nós; a fé pela qual Ele toma posse de mim e me transforma, de tal modo que já não sou que vivo, mas é Cristo que vive em mim (Gal 2,20); a fé que, nascendo do amor, actua pelo amor (Gal 5,6), o seu amor em mim e de mim aos outros, a todos os outros.
Neste contexto é perfeitamente compreensível o que Jesus exige dos seus pais: serem diáconos uns dos outros e escravos de todos. Ou Paulo com a exortação: «Fazei-vos escravos uns dos outros» (Gal 5,13). Escravos porém, sem qualquer perda de liberdade e de prosperidade. Pelo contrário: Foi para a liberdade que Cristo nos libertou (Gal 5,1), a liberdade dos que amam à dimensão do seu amor. E a esses podem aplicar-se estas outras palavras de Paulo: Tudo é vosso: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a via, a morte, o presente, ou o futuro. Tudo é vosso. Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus. (1 Cor 3,21-23).

5. É pois nesta condição que a Igreja adquire a sua identidade e realiza a sua missão. E isto em todas as áreas da sua vida, como aliás nos vão mostrar as leituras bíblicas da presente celebração:
A de Act 6,1-7 fala-nos da evangelização, da Palavra que crescia em latitude. Um sucesso que se devia tanto à pregação dos Apóstolos como à caridade dos que tinham sido investidos na tarefa de socorrer as viúvas. Não é por acaso que, no original grego, às duas actividades se chama diaconia. É que ambas resultam da mesma entrega total ao Evangelho: uma entrega provocada pelo próprio conteúdo do Evangelho, isto é, a oferta da vida feita por Cristo, para a salvação de todos; e uma entrega, por isso, em que o Evangelho é encarnado nas vidas daqueles que a ele se entregam: na total dedicação ao seu anúncio por parte dos Apóstolos e na generosa dedicação aos mais desfavorecidos da parte dos que servem às mesas. Daí e força convincente e salvífica da evangelização, ainda hoje.
Na 1 Ped 2,4-9 são realçados a origem e os efeitos da união entre os cristãos, as pedras vivas do templo do Senhor. É espiritual o edifício que formam, porque animado pelo Espírito que deles se apodera e leva cada um a entregar-se ao serviço dos outros, a dar de graça o que de graça recebe. Daí a forte coesão de diferenças entre eles. Uma unidade que exige sacrifícios. Uns do interior da Igreja, outros provenientes de fora: entre os cristãos, a renúncia ao que partilham; de fora, a marginalização da parte de não crentes, devida ao abandono pelos cristãos de práticas contrárias à sua fé. Mas são exactamente esses os sacrifícios que agradam a Deus, porque feitos em total adesão á fé a Cristo. A fé pela qual Ele passa a actuar naqueles que a ele se confiam – como pedra tomada viva e vivificante pela total entrega a Deus e aos homens, incluindo aqueles que o rejeitam.
Por isso é que os sofrimentos a que tantas vezes somos sujeitos por fidelidade às convicções e práticas cristãs acabam por nos fortalecer na fé, na esperança e no amor, e nos levam a participar mais vivamente do sacerdócio de Cristo: como testemunhas da sua salvação, que se revela ao vivo em nós… se a Ele nos mantivermos unidos.
É dessa união que Ele nos fala em Jo 14,1-12. Mas agora mais na perspectiva da celebração da fé. As suas palavras são ditas na Última Ceia, que tem a sua memória na Eucaristia. É nela que, ainda neste mundo, se entra com mais intensidade na morada que o Ressuscitado nos preparou com o seu regresso à casa do Pai.
Um regresso que Ele realizou como escravo. A lavagem dos pés era obrigatória só para escravos e a crucificação era uma pena reservada a escravos ou pessoas degradadas a essa condição. Um acto de escravo sem dúvida, mas de modo algum escravizante. Pelo contrário: foi o acto mais livre e libertador, porque expressão de amor, o que atinge o grau máximo no dom da vida por aqueles que se ama.
Foi assim que Ele se tornou presente entre nós como o caminho, a verdade e a vida: o caminho que nos conduz à mesma entrega da vida; a verdade do Pai que no Filho nos liberta e capacita para o mesmo amor; a vida em que, nesse amor, triunfamos definitivamente sobre o pecado e a morte. Razões de sobejo para a Ele nos confiarmos pela fé: para que, em nós, continue a fazer as obras do Pai – no amor que nos une, nomeadamente nesta Eucaristia.

6. A tentativa dos filhos de Zebedeu de subirem ao topo da glória e do poder, a todo o preço, até da própria vida, não foi a última na história do cristianismo. Com os custos a que o Evangelho já alude: a destruição da unidade entre os cristãos; a adopção de critérios e hábitos mundanos e a consequente perda da identidade, credibilidade e poder interventivo da igreja, e sobretudo a instrumentalização e até manipulação de Deus e do sagrado para proveito próprio, o pecado da idolatria.
Contra tais tentações e pecados, não encontro meio algum que não passe pela oração. A autêntica: a que, nascendo do reconhecimento – dos nossos limites e fragilidades de criaturas, consiste na entrega de fé ao Deus detentor da vida e Senhor da história, o Deus que, para isso, em Jesus Cristo desceu ao nosso nível, encarnou as nossas fraquezas, para fazer delas o dom da vida… e nessas condições nos conquistar para a oração, nos ensinar a rezar.
Essa a oração a que todos somos convidados nesta celebração. Aquela em que na prostração assumo a atitude do escravo que reconhece a distância que o separa do seu Senhor e a Ele se confia para acolher a sua graça e se deixar transformar pelo seu poder. A oração que, para isso, necessita do apoio e intercessão de tantos que, para serem santos, se fizeram escravos: como Pedro e Paulo, escravos de Cristo, ou Maria que, ao oferecer-se como escrava do Senhor, se tornou a Mãe do Filho do Altíssimo.
Que assim o Espírito do Senhor, pela oração ordenante e a imposição das mãos, penetre em mim… para fazer de mim escravo de todos.

+ D. Anacleto de Oliveira

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Carmo Jovem já chegou a casa

Os jovens Carmelitas peregrinaram pela quarta vez a Fátima. A pé. Esta é a primeira foto de grupo a sair cá para fora. Parabéns. Aguardamos a crónica.

domingo, 6 de junho de 2010

Sem morada permanente!

Ao fim de quatro dias de caminho os jovens carmelitas chegam hoje ao Santuário Fátima, finalizando, assim a IV Peregrifáti ou Peregrinação a pé a Fátima do Movimento. É uma experiência única que marca quem nela se inscreve.
Realiza-se também hoje a XXVI peregrinação nacional dos devotos do Reizinho ao Santuário do Divino Menino Jesus de Praga, em Avessadas, Marco de Canaveses.
Uma e outra peregrinação — o punhadito de Fátima, a multidão de Avessadas; a pé ou de bicicleta, de carro ou autocarro —, inscrevem-se nesse movimento de alma que caracteriza o cristão: não ter em lugar algum morada permanente.
Peregrinar é um movimento que marcou todas as eras e sociedades, não apenas as religiosas. As metas sempre foram apelos tão díspares como os cumes das montanhas e os rios, os lugares sagrados tornados famosos e até os bosques e o mar.
Vistas as coisas como devem só se desloca quem tem potencial para isso, só sai de si e da segurança do lar quem, no fim de contas, nem no lar próprio nem no incansável calcorrear dos caminhos tem morada permanente.
Também é certo que nem só os ricos peregrinam, mesmo quando a ausência é onerosa e por longos meses.
Os tempos actuais, porém, proporcionam um índice de mobilidade cujo caudal é incomparavelmente maior ao de qualquer outra era. Ninguém antes de nós pôde deslocar-se como nós: mais longe, mais rápido e tão seguro. Talvez por isso e ainda por causa da sede de infinito e de absoluto, a saída e a busca engrossaram visivelmente nos nossos dias. As numerosas deslocações de indivíduos, de pequenos grupos e de multidões alcançaram proporções raramente antes esboçadas.
As motivações para peregrinar a pé são muitas. Vão desde o desejo de purificação e mortificação (sim, ainda existem, não estão erradicados!) até ao apoio voluntário que se dá a alguém mais frágil, e também a busca de perfeição espiritual, de superação pessoal e dos limites quotidianos.
Todo o peregrino sente algum aconchego na ideia de ser estrangeiro por um tempo. Existe aí algo de misterioso: ele não se deixa aprisionar a quaisquer grilhões, mesmo que jamais atinja a meta desejada. É alguém cuja fobia ao emparedamento a que a sociedade obriga, o impele para a urgência da partida, refazendo, assim, o caminho inevitável de cada ser humano: nascer, crescer, morrer.
Numa peregrinação podemos assinalar o paralelismo dessas fases bem definidas: (preparação) partida, percurso e regresso. A partida é um momento de ruptura. Em tempos mais incertos que os nossos a partida era quase sempre certa, o regresso não. Por essa, razão lavravam-se testamentos, o cônjuge (sim, as esposas por vezes também partiam!) obrigava-se a dar consentimento e o peregrino partia depois da bênção da autoridade religiosa (frequentemente o bispo!) munido duma cédula em que se reconhecia ser tal a sua condição, como forma de rejeição ao estatuto de vagabundo ou pedinte.
Abandonada a existência rotineira, a casa e os afazeres o peregrino submerge-se no tempo do percurso que dura toda a viagem até atingir a meta proposta. Caminhar para a meta é o que o move, tantas vezes brigando contra a exaustão. A fadiga e o testar do limiar da resistência física têm uma beleza própria. Experimentar os limites próprios torna a oferta dum copo de água fresca uma graça inestimável e renovadora da leitura do Evangelho.
Até mesmo a mais pequena das peregrinações
— por exemplo, a que todos os domingos fazemos da nossa casa até à igreja, onde rezamos a Missa! — nos situa ao nível dos peregrinos célebres e nos aproxima deles, e não apenas espiritualmente, também fisicamente, tal é, por vezes , o grau de exaustão, de abandono, de entrega ao caminho, de confiança em quem se compadece de nós e nos abre as portas ou o coração, a nós, estranhos. Pela peregrinação convivemos com os campeões dos caminhos Abraão, Isaac e Jacob, Moisés, Aarão e Miriam, Elias, Eliseu e Naaman, Jesus, José e Maria.
Só um coração insatisfeito com o banal e o habitual, só um olhar perscrutador dos segredos da orla do horizonte, só alguém inquieto e aberto ousa peregrinar. O centro da peregrinação é esse: a convicção da inexistência de morada permanente. Nem todos o sabem e muitos se enganam: nós não temos residência fixa, nós só temos morada eterna depois de cruzar o umbral da morte.
A peregrinação é um renascimento. Ela afasta da fadiga quotidiana e aproxima da experiência de Deus. Por isso, tanto encanta e seduz.
O regresso não é um desafio menor. No regresso tudo mudou, tudo está diferente. E apesar das convulsões que entretanto a história possa ter registado em acta, quem mais muda é o peregrino. Ao atravessar a padieira da porta e retomar o seu lugar no quotidiano o peregrino chega mais humilde, mais luminoso no olhar e mais engrandecido espiritualmente. Ou então, não foi peregrino mas simples turista.
Chama do Carmo I NS 73 I Junho 6, 2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Oração de bênção do Mundial de Futebol

O bispo anglicano Thabo Makgoba, da cidade do Cabo, África do Sul, onde vai decorrer brevemente o Mundial de Futebol, criou «uma oração curta e simples, que é fácil de aprender». É a oração de bênção do Mundial.
Aqui fica então a oração:
Abençoa meu Deus o Mundial 2010,
abençoa aqueles que competem e aqueles que apoiam,
abençoa os anfitriões e os visitantes,
e ajuda todos os que amam este precioso jogo a crescer no amor que nos deste.

Amen.