sábado, 22 de outubro de 2011

Homilia da Missa de Abertura do Ano Pastoral


1. Caríssimos irmãos e irmãs:
Em primeiro lugar dizer-vos que ontem realizámos uma pequena reunião às 16:00h. Foi o ponto de partida para o novo Ano Pastoral desta comunidade do Carmo. Uma organização, neste caso uma comunidade cristã, tem sempre algumas actividades que estruturam a sua vida de comunhão, e por isso necessita de pessoas que lhe dêem corpo e as desenvolvam, que as estimem e acarinhem.
Desde lavar o chão da nossa igreja à prática da caridade fraterna, desde a garantia dos serviços litúrgicos a outros serviços é preciso a ajuda de muitos corações. Em nome de quem servimos a todos vós quero agradecer o trabalho, o suor e dores de cabeça, a dedicação, a oração, a estima e o carinho a este rebanhinho de Jesus que somos aqui no Carmo.

2. Ontem não éramos muitos, talvez uns trinta. Foi com algum humor, e até com sorrisos, que nos demos conta que somos tão pequenos e tão fraquinhos.
Eu dou graças a Deus pelas comunidades cristãs grandes, muito bem organizadas e espectaculares nos serviços que proporcionam. Aqui, porém, somos pequeninos. Aqui apoiamo-nos ora num coxo ora num careca, num meio cego, e quase todos cansados e moídos pela vida, mas todos com vontade de dar, de ajudar, de servir. É isto que eu hoje rezo, é isto que agradeço a Jesus: a dádiva que me dais para bem servir. Vejo-vos com vontade de serdes uma pedrinha capaz no edifício desta Comunidade. Se olharmos para esta nossa igreja vemos que as pedras que aqui se encontram umas são mais bonitas que outras, umas enormes outras já estragadas, umas mais escondidas outras mais trabalhadas, umas estão na base outras são tão pequeninas que se escondem na argamassa, umas lá no tecto outras são lajes onde colocamos os pés. Enfim, todos temos lugar e função neste edifício. Sim, cada um de nós tem aqui um lugar!
Ontem recomeçámos o caminho com Jesus de forma comunitária e mais organizada. Coragem para a nova caminhada pastoral com Jesus, nosso amigo e bom pastor!
3. Começámos com humor, a sorrir e a rezar pela nossa pequenez e fragilidade. Assim começámos, assim continuemos.

4. A segunda meditação que quero partilhar convosco é sobre a santidade de Teresa de Jesus, nossa mãe. Ontem, dia 15, foi o seu dia. Aqui está ela, connosco, representada nesta sua bela imagem.
Na sala da Comunidade temos uma agenda. Na página do dia de ontem, um dos padres escreveu: Santa Teresa de Jesus: Grande Mulher! Grande Mulher! Grande Mulher!
Eu não podia calar hoje na nossa celebração o seu nome e a sua vida santa! A nós que habitamos a sua casa e a vós todos que aqui rezais, a todos nós seus filhos, deixai que diga: Que grande mulher temos por mãe!
Porém, quando fala de si mesma, apenas diz: Sou muito pequena e tão ruim!
Uma coisa é certa: viveu há quinhentos anos e continuamos a fazer memória dela. Quantos viveram há cinco séculos e ainda se faz memória deles?

5. Santa Teresa de Jesus viveu num tempo em que as mulheres tinham um estatuto de… quer dizer, não tinham estatuto! Não podiam falar, não podiam pregar, não podiam ensinar, não podiam dizer nada na Igreja nem na sociedade. Podiam ter filhos e pouco mais. Porém a memória de Teresa de Jesus estendeu-se pelos séculos fora, porque algo fez de grande e de invulgar. Por que não podia falar, escreveu. Por que não podia ensinar, juntou mulheres que educou e ensinou-lhes a sabedoria de Deus. Por que não podia pregar e defender a fé, rezou. Por que não podia ajudar a Igreja com a força dos varões, dedicou-se a uma especial relação de amizade com Deus – que é a oração – juntamente com as suas irmãs. Ajudou-as a ser mulheres e a crescer na fé, e juntas, desde os seus mosteiros, rezando, defenderam a Igreja do seu tempo. Rezaram corajosamente, intensamente, por aqueles que ensinavam, pelos que pregavam, governavam e cuidavam da Igreja e das nações. Onde quero chegar? Aqui, nada mais que aqui: ontem e hoje e em qualquer tempo, cada um e cada uma tem o seu lugar na Igreja. Talvez ao procurarmos já encontremos doze pessoas sentadas num banco de três! Talvez na busca não encontremos exactamente o lugar confortável que desejávamos, porém cada um de nós tem lugar no coração de Deus e no coração da Igreja. Talvez procuremos um trono, mas já não será mau se encontrarmos lugar para nos sentarmos aos pés do Mestre. Sentemo-nos, pois aí. Esse é o melhor lugar: e não nos será tirado!

6. A vida de Santa Teresa de Jesus mostra-nos que na Igreja todos têm lugar. E por vezes é um lugar inesperado. Pergunto-me: Quantos de nós já se questionaram sobre o seu lugar, ou melhor, pelo lugar em que Deus o quer? Quantos?... Quantos estamos dispostos a ocupar o lugar que Deus tem reservado para cada um? Ou não será mais fácil, por vezes, não chegar a ocupá-lo?
Teresa encontrou um lugar na Igreja. E como brilhou a Luz desde o coração e o lugar de Teresa!

7. Li ontem uma carta do Cardeal Albino Luciani, futuro João Paulo I. Uma carta que publicou dirigindo-a Santa Teresa de Jesus. Gostaria de a ler toda aqui, mas não posso. Dizia ele recordando um dito da nossa Santa: «Teresa sozinha não vale nada. Teresa e um euro – ela diz um maravedi – vale menos que nada. Teresa um euro e Deus, pode tudo.»
Com Deus Teresa pode tudo e nós tudo podemos! Não fiquemos sozinhos, façamos comunidade com os irmãos e com Deus e tudo poderemos! Oxalá tenhamos o eurito para a sopa, que o Senhor não nos falhará com o resto. Não nos faltará a sua graça, a sua bênção, a sua vida: e com Ele tudo poderemos! Não vale a pena ficarmos sós em casa a choramingar e lamber as feridas. Façamos comunhão. Aqui, no Carmo, nós e alguns leigos, havemos de ajudar a caminhar com Jesus, como Igreja sua. Quem quiser não ficar só pode juntar-se a nós. Aviso desde já: somos muito fraquinhos, muitos fraquinhos. Não mostro o que não somos. Mas, olhai, apesar de ruins e fraquinhos, mesmo coxos ou mancos, iremos andando ao encontro do Senhor, com a graça de Deus.

8. Gostava de partilhar algo do meu entendimento da Palavra de Deus que hoje escutámos juntos. Dizer-vos que na Segunda Leitura escutámos o início do primeiro escrito do Novo Testamento. (Quando abrimos o Novo Testamento a primeira coisa que encontramos são os Santos Evangelhos. Porém, não foram os primeiros a ser escritos.) O primeiro texto inspirado foi a Carta do Apóstolo Paulo aos cristãos da cidade portuária de Tessalónica. Foi escrita vinte anos depois da morte de Jesus.
Quando Paulo sentiu o impulso de evangelizar aqueles que não eram Israel, dirigiu-se em primeiro lugar aos homens e mulheres de Tessalónica. Ficou lá menos de um mês, porque, entretanto, atentaram contra a sua vida e teve de fugir. Um mês dá para muito pouco. Ainda assim, naqueles poucos dias Paulo baptizou um punhado de homens e mulheres.
Agora aquela era uma comunidade apaixonada e intensa, mas Paulo não sabia julgando-a muito instável e frágil!
Um dia Timóteo visita Paulo que vive noutra cidade, em Corinto. O Apóstolo vivia ali frustrado e abatido, coisa que também acontece aos santos. E lá ia pregando, mas, mas… não vivia feliz. Timóteo diz-lhe então: tu sabes, Paulo, que os cristãos que deixaste em Tessalónica são gente boa e dão boa conta de si e da sua fé cristã? Sabes que tiveste de fugir; mas ali vivem e rezam cristãos ardentes e muito capazes?
Paulo deu então um salto! E dum fôlego escreveu a Carta que ouviremos durante cinco Domingos. É muito bela. É uma exultação com a vitória do Evangelho, pela graça de Deus, naquela comunidade.
Deixai-me sublinhar uma palavra de Paulo no trecho de hoje. Diz o Apóstolo mais ou menos assim: Dou graças a Deus pelas maravilhas que acontecem nas vossas vidas. Quando rezo, eu dou graças a Deus por vós.

9. Deixai agora que fale o meu coração. Quero, meus irmãos, nesta eucaristia, ao lado do Padre Caetano e do Padre Carlos, meus professores – o P. Maciel e o P. Silvino não puderam estar – ladeado por deles quero dizer-vos, por mim e por eles, que com eles apreendi: também eu, também nós, damos muitas graças a Deus por vós. Tenho pais, irmãos e sobrinhos. Mas em primeiro lugar dou graças a Deus por vós. Na minha oração, na nossa oração comunitária, nós damos muitas graças a Deus por vós, nós alegramo-nos e agradecemos as maravilhas que Deus vai fazendo em vós e por vós nas vossas famílias. Sim, irmãos e irmãs, a mim o que me faz sorrir e o que me faz andar para a frente é a vossa vida, a vida das vossas famílias, os vossos anseios de crescer, o desejo de juntos sermos fiéis ao Senhor, de amarmos o seu Evangelho, de sermos irmãos, de rezarmos em comum, de nos amimamos uns outros, de sairmos lá para fora sem ir de boca fechada e anunciarmos o mistério da salvação que aqui sempre renovamos.

Meus irmãos e irmãs:
o que a mim me alegra é a vossa vida! A vida dos que conheço e dos que não conheço. Não vos conheço a todos, mas a todos quero dizer que nós, Carmelitas desta Igreja do Carmo, nos alegramos com as vossas vidas que amam, crescem e rezam na nossa igreja, que rezam connosco, que rezam por nós, pelo bem da Santa Igreja, tal como fez e ensinou Santa Teresa Jesus.

10. Termino. Mas olho ainda a moeda que estenderam a Jesus. (Não falarei de César nem da moeda, nem da economia nem da política.) Quem está nesta moeda, perguntou Jesus? Responderam-Lhe: César. E Jesus retorquiu: dai a César o que é de César. E visto que eles eram tão religiosos mas não falavam de Deus, acrescentou: e a Deus o que é de Deus!

Caríssimos irmãos:
o discurso do dinheiro, dos impostos e das finanças é muito terra a terra. Infelizmente o discurso do dinheiro é para fazer mais dinheiro. Infelizmente o discurso dos ricos é para pensar nos ricos e no aumento das suas riquezas. É um discurso horizontal, fechado, sem abertura. Se nos seus discursos pensassem em Deus, pensariam também nos pobres que são a outra face do rosto de Deus.
Por isso, assim estamos. Fechados e pensando só em dinheiro sem sopesar que o senhor do mundo, do dinheiro e dos pobres é Ele e sempre Ele. Fechamo-nos em vez de nos abrirmos, falamos de dinheiro e esquecemos a Deus, e em consequência nós é que ficamos pobres por não O olharmos e respeitarmos o Seu rosto que são os pobres.

11. Agora sim, termino!
Que a graça deste Evangelho e desta Eucaristia nos animem a nos mostramos ao mundo e à Igreja. A nos abrimos a Deus e aos irmãos, a fim de trazermos cada vez mais Deus para a vida. Como poderemos seguir olhando o rosto dos irmãos sem vermos o de Deus? Como poderemos falar e trabalhar sem nos referirmos a Ele?

12. Que onde o mundo falhou, não falhemos nós.
Que Deus nos ampare, a nós que escutamos a sua Palavra e comungamos o seu Corpo.
Assim seja.
Frei João Costa, Prior
Carmo de Viana do Castelo, Outubro 16 2011

Chama do Carmo  NS 120  Outubro 16 2011

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