sábado, 24 de março de 2012

Queríamos ver Jesus!

Estamos a aproximar-nos da Páscoa, a celebração da morte e ressurreição do Senhor. Mais uma vez havemos de nos perguntar: Qual é o significado da morte de Jesus, a morte que traz a vida?
Jesus, chegando a Jerusalém para celebrar a festa da Páscoa judaica, foi aclamado pela multidão de peregrinos que acorrem à cidade para o cumprimento do preceito religioso de participação nesta festa. Entre estes peregrinos encontram-se uns gregos que se dirigem a Filipe, manifestando-lhe o desejo de ver Jesus, por que Jesus os atrai mais do que a própria festa.
O excerto do Evangelho deste quinto domingo da Quaresma fala-nos de um grupo de homens gregos, isto é, de uns judeus de nacionalidade grega ou que viviam segundo os costumes gregos, que se aproximaram dos Apóstolos e disseram a Filipe: «Senhor, queríamos ver Jesus».
Filipe pediu a companhia de André e, juntos, foram ter com o Mestre, manifestando-lhe o desejo daqueles homens. A resposta de Jesus, que se dirige não só a eles, mas a todo o povo que estava em redor, é uma bela manifestação da teologia da universalidade dos frutos da Paixão: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. (...) Se alguém Me quiser servir, que Me siga.»
Havemos de escutar calmamente todo este punhado de versículos do capítulo doze de São João. É um trecho que enuncia a densidade de ensinamentos que a liturgia destes dias nos oferece a fim de nos preparar para a Semana Santa e a Páscoa.
Parece que a Igreja deseja fazer brotar em nós a necessidade de termos o mesmo desejo que tiveram aqueles homens que foram ao encontro dos Apóstolos: ver Jesus, isto é, conhecê-lo, ouvir os seus ensinamentos, acolher a sua mensagem de conversão e de fé.
O trecho é muito belo.
Aqui, no entanto, sublinho as duas afirmações mais fortes e solenes. A primeira é a que diz: «Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará sozinho; mas, se morrer, produzirá muito fruto.»
Eis a lição sobre o valor da renúncia radical. A vida dos egoístas é uma vida estéril! Só quem sabe sacrificar-se é capaz de fazer grandes coisas. Mas do que Jesus nos fala nesta pequena parábola é do anúncio da sua morte e ressurreição. Ele é o grão de trigo, que vai cair no solo da morte, mas vai ressuscitar para rebentar em vida e dá-la a um infinito número de crentes que O seguirem. Sim, a terra vai transformar-se num imenso trigal a perder de vista. Da colina escalvada do Calvário brotarão rios de pão para a salvação do mundo. Do sacrifício de Jesus em diante nenhuma dor ou morte ficará estéril e sem sentido. Jamais algum deserto ficará duro para sempre, impedidode nele brotar a flor do pão.
A segunda grande afirmação, podemos dizer que confirma a primeira; nela Jesus diz: «Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim.» Comenta o Evangelista: «Falava deste modo, para indicar de que morte ia morrer». Do alto da cruz, erguido perante o mundo e a história, Jesus faz a sua convocatória universal. Os seus braços não estão abertos apenas porque os cravos os prendem à cruz. Estão abertos por que são o gesto de um grande convite. Judeus e gregos podem agora sentir o calor do convite de Jesus para entender o valor da graça da Redenção.
Pode um pobre homem nu, humilhado, torturado e ensanguentado, sem beleza alguma, atrair alguém? Poderá ser tema de interesse para a terra inteira?
Ninguém acreditaria que sim. Mas o certo é que o Senhor profetizou: «Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim»!
É agradável pensar que em qualquer ponto da terra em que se erga a imagem do Crucificado, aí se renova o convite de Jesus. E que para a sua cruz se atrai o nosso olhar. É certo que a retiraram dos espaços públicos!, mas não podemos negar que o mundo está assinalado por esse sinal sagrado da Redenção. Não só nos pináculos das igrejas, nos lares cristãos e nos túmulos dos que adormeceram marcados com o sinal da fé; mas também em lugares célebres da paisagem, como certas alturas dos Alpes e dos Andes. E existe ainda o louvável costume de trazer sobre o peito uma pequena imagem da cruz. Que esse gesto não se reduza apenas ao sentido de um adereço, sobretudo quando é de matéria preciosa... Deveria ser sempre um apelo silencioso a relembrar o grande mistério do sacrifício de Cristo. E então veríamos aquele pequeno grupo de gregos, que Felipe e André apresentaram a Jesus, multiplicado em multidões de jovens, de velhos e crianças de todo o mundo, que caminham para «ver Jesus». Ver significa conhecer, ter experiência da presença e do diálogo, passar um tempo de convívio e comunicação com Jesus. Não é isso que Ele quer e nos falta?
Chama do Carmo I NS 142 I Março 25 2012

1 comentário:

Anónimo disse...

Que saberemos nós do que Ele quer para nós?! Se o soubéssemos, viveríamos de uma outra forma a dor que nos aniquila, que delonga em nós desmedidamente os dias que não são dias, mas densas cortantes noites... Enfrentaríamos “face to face” e não fugiríamos dos outros que nos convidam a entrar “mais adentro na espessura”. Nesta dualidade continuamos a querer vê-lo, continuamos a querer ver o breve que será amanhã!... Porque não nasce a disponibilidade de aceitação face ao presente, porque não somos capazes de deixar a pele antiga?! Do Seu sacrifício nenhuma dor ficou e ficará estéril sem sentido? Dizei-me Voz onde se encontra esta vitória? (correrei para Ela) Não O compreende no passar dos dias. Não O consigo centrar na vida, mas na morte…