sábado, 16 de junho de 2012

As paredes também se amam

Na Chama do domingo passado avisámos que neste pediríamos ajuda para as obras de restauro da fachada e dos beirados da Igreja e da ala da Rua da Bandeira. É o que hoje fazemos. E fazemo-lo mais com sentido de responsabilidade que desejo de gastar.
Entretanto, já ouvi dizer «Que não pode ser». E também já ouvi dizer: «Que sim Senhor, para isso estamos aqui.» Por mim penso que se faça bem o que bem deve ser feito. Isto é, tudo o que se fizer.
Há gostos para tudo e forças para não muito. Mas forças pequeninas juntas têm mais força. É só por isso que pedimos a ajuda de todos.

Há uns meses atrás uma ventania desprendeu umas lascas de pedra. Caíram felizmente sobre um carro estacionado. Não houve danos pessoais. E nem é bom pensar se caíssem sobre pessoas! Logo foram seladas as restantes que ficaram soltas, mas não foi possível repor completamente o pináculo que se deslocara um pouco. Será agora, pois não queremos nada fora de lugar.
Aqui em casa manda o realismo. E não é preciso ser-se sábio para se perceber que é mais fácil cuidar dum corpo novo e saudável, que socorrer os achaques dum velho e cansado. É o caso. A nossa Igreja do Carmo já não é nova; requer, por isso, cuidados diferentes, atenções e carinhos que a animem a acolher-nos com dignidade e segurança como sempre fez.
Depois de falarmos com quatro empresas decidimos entregar os trabalhos à Abel Festa & Filhos, de Castelo de Neiva.
Os trabalhos de restauro começaram no dia 4 de Junho e é nossa esperança tê-los concluídos antes da Festa da nossa Padroeira, a Senhora do Carmo. Os dias de chuva não têm sido benignos connosco, ainda assim os trabalhos vão sendo executados a um ritmo e qualidade que nos agradam.
Para além do inicialmente orçamentado apareceram maleitas só passíveis de diagnóstico quando os andaimes subiram e nos levaram lá acima e começámos a testar a realidade. Foi assim que pedimos ao senhor Luis Festa que actualizasse a ficha do diagnóstico. Ele respondeu assim:


Boa tarde,
Vimos por este meio expor a seguinte situação:
Depois da limpeza da fachada principal da Igreja e respectiva torre constatamos que o suporte (argamassa de regularização da parede - vulgo areado) se encontrava danificado e desagregado da alvenaria de pedra. iniciamos a remoção de todas as partes danificadas de forma a proceder a nova regularização com dois produtos especificos: weber 408 e reboco exterior branco da Diera hidrofugado. Deparamos de igual forma que as fissuras verticais na fachada principal (ver fotografia) são maiores e mais profundas do que se esperava e cuja intervenção irá passar pelos seguintes passos: abertura da fissura de forma a remover a argamassa desagregada e a expor a fissura na sua amplitude, ancoragem dos dois lados da fissura com varão de inox e aplicação de nova argamassa de regularização com aplicação de resina do tipo sika latex.
na cantaria reparamos também que as juntas das pedras do frontespicio e da torre estão danificadas ou inexistentes o que provoca a acumulação de residuos que por sua vez servem de suporte a proliferação de ervas, nesta situação iremos proceder ao fecho e reparação das mesmas com argamassa de areia fina e cimento.
Sei que são situações parcialmente inesperadas mas cuja reparação é fundamental para a preservação do edifício.
Sim, é com realismo e responsabilidade que metemos mãos ao trabalho, a única maneira de o fazer.
No dia 20 de Junho de 1647 a nossa Igreja do Carmo abriu portas ao culto ao Deus Altíssimo e à Mãe Santa do Deus Santo. Ao longo de 365 anos gerações e gerações de Carmelitas cuidaram dela com os melhores dos seus carinhos. Hoje abraço-a como quem abraça uma mãe velhinha, mas não tão velhinha que não possa ou não deva viver um punhado de centúrias mais. Melhor, hoje, todos nós a abraçamos com o melhor dos nossos carinhos. A vitalidade duma comunidade também se lê assim. Estou certo que entre os que ainda não nasceram haverá braços que a abraçarão como nós e corações que por ela baterão forte.
Nós amamos pessoas, vidas e histórias. Amamos a beleza da liturgia, do canto e das cerimónias. E amamos também as paredes que nos aconchegam. O nosso carinho faz que nunca sejam frias quando dentro nos reunimos.

Chama do Carmo I NS 154 I Junho 16 2012

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