quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crónica duma saborosa homilia anunciada

 
A novena de Nossa Senhora do Carmo culminou, como é óbvio, no dia 15 de Julho; e no dia 16 de Julho teve lugar a solene concelebração presidida por D. José Augusto Pedreira, com a presença dos religiosos da Comunidade Carmelita, do pároco P. Artur Coutinho e do Capelão de S. Luzia, P. Quintas.
Apesar do dia cinzento e chuvoso, um número significativo de fiéis e devotos de Nossa Senhora do Carmo acorreu à Igreja do Convento do Carmo para mais um momento de oração e reflexão mariana.
Coube a tarefa de presidir à Eucaristia, o bispo emérito de Viana do Castelo que na sua homilia, breve mas enriquecedora, começou por saudar os presentes lançando-lhes uma questão para a qual não esperava, de certo, resposta! Prendia-se a mesma com o facto de na celebração ter sido lida uma belíssima passagem do Livro dos Reis. Nela é descrito a forma intensa e confiante com que o profeta Elias, inspirador da Ordem Carmelita, orou, pedindo a Deus a sua intervenção, para que chovesse, uma vez tal não acontecia há três anos e meio. Desta forma, o pregador começou por destacar a necessidade de oração constante e confiante por parte dos crentes; da nossa entrega confiante a Deus à semelhança de Maria.
Do texto do Evangelho enunciou a missão particular atribuída por Jesus a Maria, considerando-a mãe de João, mãe dos homens e mãe da Igreja. Junto da Cruz, no momento mais crucial da vida/morte de Cristo, o Filho atribui a Maria a missão extraordinária de ser Mãe de todos nós e de nos conduzir ao “estado de graça” da presença de Deus.
D. José Pedreira salientou que o culto mariano é por vezes criticado por outras religiões e por dissidentes católicos, uma vez que, segundo opinião daqueles parece ser-lhe dado mais atenção do que a Jesus. Mas no turbilhão da História da Humanidade, referiu o prelado, há um local onde estas questões não se colocam ou pelo menos se desvanecem! Em Éfeso, na Turquia, existe uma capela que é partilhada por crentes católicos, ortodoxos e maometanos. Cada uma das comunidades crentes coloca Maria no centro da meditação e como modelo da sua vida!
Segundo o Evangelho, ao ser crucificado, Jesus pediu ao discípulo João para cuidar de sua mãe. O que ele providenciou diligentemente. Assim sendo, João trouxe Maria para Éfeso por volta do ano 37 d.C., onde ela passou o resto da sua vida, numa modesta casa. A casa da Santíssima Virgem Maria, fica no alto do monte Coresus (Panaya Kapulu) a oito quilómetros do centro da cidade num local conhecido agora como Maryemana Kultur Parki. A casa foi oficialmente declarada Igreja Católica Romana em 1896 e desde então tornou-se local de peregrinação de cristãos e muçulmanos, além de peregrinos de vários outros cultos. Para os muçulmanos, ela tem grande importância também, pois, para eles, Nossa Senhora foi a mãe de um grande profeta. Fazem também orações na casa, mas do lado de fora, pois dentro os desenhos humanos impedem esta prática. Saliente-se ainda que Maria é a única mulher a ser exaltada no livro sagrado muçulmano.
No decorrer da sua homilia, D. José Pedreira destacou a importância da Ordem Carmelita na História, contextualizando o seu aparecimento. Assim, entre 874 e 852 a.C., o profeta Elias exerceu o seu ministério no Monte Carmelo, uma pequena cordilheira montanhosa na costa de Israel com vista para o Mar Mediterrâneo. O seu nome, Karmel, significa "vinha florida", "jardim" ou "campo fértil". E foi aqui, no seu refúgio, que Elias provou aos israelitas que o Deus de Israel era o verdadeiro Deus, o Deus da aliança que não falha.
No século XII muitos cruzados abandonaram as armas e acolheram-se à solidão do Carmelo. A eles se juntaram muitos peregrinos da Terra Santa, cansados das longas jornadas de busca. Coube ao Prior Bertoldo configurar a primeira organização da vida dos Carmelitas. E depois ao Prior Brocardo receber a Regra de Vida das mãos do Patriarca S. Alberto de Jerusalém.
Já no século XIII, São Simão Stock reorganizou a norma da vida religiosa Carmelita e ao princípio Ora et Labora – oração e trabalho – que S. Bento legou à Igreja, acrescentou as dimensões comunitária e apostólica ao núcleo central do dia-a-dia conventual. Consta na história da Ordem que a Virgem Maria lhe apareceu na alvorada de 16 de Julho de 1251 para lhe entregar o Escapulário com a promessa de que aqueles que morressem com ele seriam salvos. Por esta razão a devoção popular a São Simão Stock é geralmente associada à devoção ao Escapulário e a Nossa Senhora do Monte Carmelo.
O Escapulário do Carmo é um sinal externo de devoção mariana. Os seus portadores (quer sejam religiosos, quer sejam leigos) pertencem à Ordem Carmelita e consagram-se à Virgem do Carmo, na esperança de obter a sua especial protecção e intercessão. O distintivo externo desta pertença ou consagração/devoção é o pequeno escapulário castanho, que é constituído por duas peças de tecido de lã castanha atadas entre si por um fio. O escapulário recorda-nos o nosso compromisso cristão e a dimensão mariana do nosso carisma carmelita (que se caracteriza por uma vida de familiaridade com Maria, impregnada de oração, imitação, presença e prática das virtudes). O escapulário só pode ser pode usar-se após uma singela cerimónia de imposição, à semelhança do que foi feito no domingo após a Missa das Dez a que presidiu o Prior do Convento.
A devoção dos católicos afirma que com o seu materno amor Maria cuida dos irmãos de Seu Filho que ainda peregrinam, vivendo no meio de perigos e dificuldades, até que cheguem à Pátria Celeste. A doutrina católica mariana afirma peremptoriamente que «um verdadeiro devoto de Maria se salvae». O Escapulário do Carmo, assim entendido, concretiza a maternidade espiritual de Maria que protege na vida, salva na morte e intercede depois a morte. E tal como afirmou João Paulo II, o escapulário não deve ser visto como uma espécie de amuleto mas sim como símbolo que marca a íntima relação e compromisso com Deus.
Acreditando que a comunidade de religiosos deve ser activa, destaca-se a necessidade de não deixar de ser contemplativa sob o olhar materno de Nossa Senhora do Carmo.
D. José Pedreira reforçou, por fim, a importância da Igreja ser capaz de fazer chegar a Palavra de Deus a uma sociedade cada vez mais esclarecida, moderna e exigente, sendo para isso muito necessário a verdadeira atenção e acolhimento por parte dos irmãos da Ordem do Carmo a quem os procura.
D. José encerrou a homilia exprimindo o desejo de que todos possamos viver na confiança da Fé e na Esperança fazendo o que o Senhor espera de nós, a fim de alcançarmos a salvação que todos desejamos.
Ana Margarida

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