domingo, 8 de junho de 2008

Espada (III)

São Paulo: O combatente e o sofredor

Ao subir para a Basílica de São Pedro, colocou Pio IX, no século XIX, duas majestosas figuras do apóstolo Pedro e Paulo. Ambos se reconhecem pela sua simbólica: a chave nas mãos de Pedro, a espada nas mãos de Paulo.


A luta de um sofredor

Paulo era um homem preparado para o sofrimento, e isso era efectivamente a sua força. Nunca se poupou, nunca desistiu por dissabores ou desgostos, nem alguma vez almejou uma vida confortável.Muito pelo contrário. Exactamente porque se expunha, porque não se poupava e se entregava à luta e se gastava por causa do Evangelho. «Quanto a mim, de bom grado darei o que tenho e dar-me-ei a mim mesmo totalmente, em vosso favor.» Estas palavras da Segunda Carta aos cristãos de Coríntios (12, 15), revelam o mais íntimo deste homem.Paulo não pensava que o principal objectivo da pastoral era evitar os problemas. Também não pensava que um apóstolo tinha de ter uma boa imprensa. Não, ele queria despertar, incomodar o sono das consciências, mesmo que isso lhe custasse a vida. Pelas suas cartas sabemos que de maneira nenhuma se pode considerar um grande orador. Partilhou com Moisés e Jeremias a falta de jeito para a oratória. Perante Deus, ambos alegaram essa razão, para justificar a incapacidade para a missão que lhes era confiada. «As suas cartas... são duras e enérgicas, mas quando está presente é fraco e a sua palavra, desprezível» (2 Cor. 10,10), dizem os seus adversários. E sobre o início da sua missão na Galácia, diz ele mesmo: «Vós sabeis que eu estava fraco e doente quando vos anunciei o Evangelho pela primeira vez» (Gal. 10, 13). A acção de Paulo não dependeu da retórica brilhante ou de alguma estratégia refinada, mas da entrega e do compromisso com a mensagem.A Igreja, hoje, só conseguirá convencer os homens na medida em que os seus anunciadores estiverem dispostos para o sofrimento. Quando falta a disposição para o sofrimento, falta o essencial da prova da verdade, com que a Igreja se confronta. O seu combate só pode ser o combate daqueles que estão dispostos a dar-se totalmente: o combate dos mártires.

Joseph Ratzinger
(IN CARDEAL RATZINGER – BENTO XVI, Esplendor da glória de Deus. Meditações para o ano litúrgico, Editorial Franciscana, Lisboa 2007.)

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