terça-feira, 17 de junho de 2008

Espada (V)



São Paulo, o combatente e o sofredor (e V)

Ao subir para a Basílica de São Pedro, colocou Pio IX, no século XIX, duas majestosas figuras do apóstolo Pedro e Paulo. Ambos se reconhecem pela sua simbólica: a chave nas mãos de Pedro, a espada nas mãos de Paulo.
5. Um combatente da verdade
Dissemos antes que o seu êxito dependeu da sua disponibilidade para o sofrimento. Efectivamente devemos dizer que sofrimento e verdade andam juntos. Paulo foi combativo, porque era um homem da verdade. Mas, aquilo que de duradoiro cresceu das suas palavras e da sua vida aconteceu, porque serviu a verdade e sofreu por ela. O sofrimento é garantia necessária da verdade. E só a verdade dá sentido ao sofrimento.
6. Pedro e Paulo, todo o evangelho
À entrada da Basílica de S. Pedro [à entrada do altar-mor desta Igreja] estão as duas estátuas dos apóstolos Pedro e Paulo. Também no portal principal da Basílica de S. Paulo extra-Muros estão os dois unidos entre si por cenas que representam a vida e o sofrimento dos dois. A tradição cristã contemplou, desde o princípio, Pedro e Paulo como inseparáveis entre si. Os dois representam todo o Evangelho.
7. Pedro e Paulo, a nova fraternidade evangélica
Em Roma esta relação dos dois, irmanados na mesma fé tem um significado acrescido. Os cristãos de Roma viam neles a imagem oposta aos dois míticos irmãos fundadores da cidade de Roma, Rómulo e Remo. Estes dois irmãos correspondem de forma estranha ao primeiro par de irmãos da história bíblica: Caim e Abel. Um tomou-se assassino do outro. Do ponto de vista meramente humano, a palavra fraternidade tem um sabor amargo. Como isso se revela entre os seres humanos, podemos verificar em vários pares de irmãos presentes em todas as religiões.Pedro e Paulo, humanamente muito diferentes um do outro, cujo relacionamento não foi isento de conflitos, aparecem como fundadores de uma nova cidade, como encarnação de um sentido novo de fraternidade, tomada possível através do Evangelho de Jesus Cristo.Não é a espada do conquistador que salva o mundo, mas a espada do sofredor. Só o seguimento de Jesus Cristo leva à nova fraternidade, à cidade nova. É esta a mensagem do par de irmãos, que nos é transmitida através das duas basílicas de Roma (Através da celebração comum com que unimos na mesma solenidade os apóstolos Pedro e Paulo).


Joseph Ratzinger


(IN CARDEAL RATZINGER – BENTO XVI, Esplendor da glória de Deus. Meditações para o ano litúrgico, Editorial Franciscana, Lisboa 2007.)

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