terça-feira, 10 de junho de 2008

Espada (IV)

4. A espada da Palavra da verdade

Ao subir para a Basílica de São Pedro, colocou Pio IX, no século XIX, duas majestosas figuras do apóstolo Pedro e Paulo. Ambos se reconhecem pela sua simbólica: a chave nas mãos de Pedro, a espada nas mãos de Paulo.Para além do sinal de martírio, podemos acrescentar ainda um outro significado da espada nas mãos de São Paulo. Na Escritura a espada também é sinal da palavra de Deus, que «é viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes…, e discerne os sentimentos e intenções» (Heb 4, 12). Foi esta espada que Paulo levantou. Com ela conquistou os homens.A «Espada» é definitivamente uma imagem para o poder da verdade, que é de natureza específica. A verdade pode doer, pode ferir - corresponde à natureza da espada. A vida na mentira, ou, simplesmente, a vida à margem da verdade parece mais cómoda do que a exigência do verdadeiro. Por isso, os homens irritam-se por causa da verdade, desejam detê-la, oprimi-la, fugir-lhe do caminho.Quem pode negar que já alguma vez a verdade o tenha perturbado - a verdade sobre si mesmo, a verdade sobre o que devemos fazer ou deixar de fazer? Qual de nós pode afirmar que nunca tentou colocar-se à margem da verdade, ou não tentou ao menos adaptá-la a si, para que não fosse tão amarga? Paulo era incómodo, porque foi um homem da verdade. Quem se entrega totalmente à verdade e renuncia a qualquer outra arma ou actividade além dela, não será necessariamente condenado, mas andará muito próximo do martírio. Será sempre um sofredor. Proclamar a verdade, sem se tomar fanático nem justiceiro - esse será o grande compromisso. No auge dos conflitos, talvez Paulo, por vezes, se tomasse um pouco azedo, próximo do fanatismo. Mas nunca se tomou num fanático. Encontramos, nas suas cartas, textos cheios de bondade, sobretudo na Carta ao Filipenses, que revelam o seu verdadeiro carácter. Podia manter-se livre do fanatismo, porque não se anunciava a si mesmo, antes revelava aos homens os dons que Outro lhes trazia: a verdade que vem de Cristo, que por ela entregou a vida, amando até à morte.Também aqui, penso eu, devemos corrigir a imagem que temos de Paulo. Recordamos demasiado os textos combativos de Paulo. Algo semelhante acontece com a figura de Moisés: recordámos Moisés como homem inflamado, inacessível e irado. No entanto, o livro dos Números diz que Moisés «era um homem muito humilde» (Nm 12, 3).
Um leitor de todos os escritos de Paulo descobrirá um Paulo humilde.

Joseph Ratzinger

IN CARDEAL RATZINGER – BENTO XVI, Esplendor da glória de Deus. Meditações para o ano litúrgico, Editorial Franciscana, Lisboa 2007

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns, pelo blog!

Encontrei-o fazendo uma pesquisa no google sobre o significado da Espada de São Paulo para o grupo de Perseverança da Igreja de São João Batista, Botafogo, Brasil.

Parabéns pela iniciativa deste site abençoado. Salve Maria!
Marta Maria Alonso de Siqueira