sábado, 10 de julho de 2010

Com estilo! (A propósito da celebração da Solenidade de Nossa Senhora do Carmo)

Julho é o mês que nos convida a recordar a realidade do Carmo. Porque é o mês da Senhora do monte santo que é o Carmelo, como um dia, há muitos séculos atrás, a proclamaram os eremitas que o habitavam, chamando-a Senhora do Lugar (do Carmelo). Sentiam-se sucessores do grande profeta Elias que em séculos remotos vira subir até ao seu cume uma nuvenzinha branca, pequena e doce — como símbolo da Virgem Maria —, que empapou campos e bosques quase mortos de sede.
O Carmelo (ou Carmo) é o monte de Maria, como o Monte Sião em Jerusalém, é o de Deus. Esta ideia tão forte tornou o Carmelo num ideal de vida que ao longo dos séculos tem inspirado inúmeras gerações a viver um estilo de vida dedicado a Nossa Senhora e pelas suas mãos a Deus.
No seu tempo, os profetas Elias e Eliseu e seus discípulos viveram e saborearam da amenidade do lugar, e dali partiram com frequência como arautos de Deus. Depois, ali se recolheram os desiludidos das Cruzadas e com a simplicidade de Elias ali fizeram reverdescer a memória de Deus e a consagração a Nossa Senhora.
Nos séculos sequentes alguns gigantes da Igreja cresceram olhando de novo o Carmelo: é o caso de S. João da Cruz, S. Teresa de Jesus, Santa Teresinha, B. Isabel da Trindade, S. Teresa Benedita da Cruz, S.Rafael Kalinowski. Cada um contemplou-o desde ângulos diversos, e engrandeceu-o de beleza espiritual.
O Carmelo não é um mito carente de verdade, causador de sentimentalismos superficiais. É um mito grandioso, verdadeiro, fruto de séculos de reflexão e inspiração bíblica e facilitador de experiências profundas. É um simbolismo rico de carga espiritual pela sua simplicidade, pela sua formosura de encher os olhos e a alma, pelos seus inesgotáveis tesouros.
Um autor espiritual escreveu:
«O Carmelo é um lugar de holocausto e de graça. O monte sobre o qual descende o fogo do céu para abrasar o incombustível.
O monte cujas águas fecundas se precipitam para o vale para regar os campos, os jardins, os soutos, as pradarias. O monte inesgotável, cristalino.
O monte coberto por um espesso véu de árvores que esconde no secreto a sua silenciosa riqueza. O Carmo, o símbolo de Nossa Senhora, é o símbolo deste poder real que tudo abarca como o monte do perfeito amor.»
Este santo monte de Maria, o Carmelo, com a sua verdade forte é apelo para numerosas vidas que o escalam; com a sua assombrosa beleza interior converte-se numa vocação, num ideal para a vida, numa meta cheia de ilusão, num chamamento divino para o compromisso.
Todos somos chamados. E de alguma maneira nos sentimos impelidos a subir ao cume da Montanha do Carmelo, para gozar dos seus frutos. Por isso, devemos procurar conhecer os seus caminhos, tantas vezes insondáveis, e tantas vezes limitados também. Porque o Carmelo, com a amplidão dos seus horizontes tem as suas características próprias, que não podem ser esquecidas, sob pena de confundir-se com outra coisa diferente. Pode ser descrito com prosa bíblica, doutrinal, e pode cantar-se com versos ardentes como fez João da Cruz; pode ser contemplado a partir dos claustros e da temporalidade do mundo, na sua variedade de situações; pode escalá-lo o homem de contemplação e o activo e missionário. Amplo, tão amplo é o Carmo! Mas concreto e de perfis claros.
Em qualquer tempo ou era Carmelo há-de coincidir com o espírito que o forjou. Primeiro com o espírito de serviço de Maria. Logo, com o espírito dos Carmelitas que o habitaram e vieram a ser alicerce dos grandes homens e mulheres que o tornaram um símbolo sublime dentro da Igreja.
Assim como geograficamente cada monte tem a sua peculiaridade que o singulariza no espaço, de modo mais evidente os montes simbólicos adquirem o seu selo próprio.
O Carmelo é ideal por natureza. Espiritualiza, eleva. É uma ascensão, uma subida que percorre os nadas da miséria, o fugaz e o frágil, o superficial e a desordem.
O Carmelo é bosque, é espessura. Fala de interioridade da alma, da reflexão serena, da paz. Foge da superficialidade, da banalidade.
O Carmelo é cume da contemplação. Nele há que acostumar-se a contemplar, a elevar o olhar para Deus, a ver o seu reflexo nas coisas, nos problemas, na história, a olhar as coisas com um sentido verdadeiro. Aquele sentido que lhe dá o seu Criador, a olhá-las com repouso, sem grandes pressas, com serenidade de espírito. A fim de encontrar-se unido com a verdade, não com a falsidade de egoísmo, da soberba, da paixão alterada, que desfiguram as realidades.
Os chamados ao Carmo somos convidados ao encontro a sós com Deus: no cimo do monte está a perfeição. E o encontro a sós, com a verdade.
É por isso que o Carmo é mais que um monte, é um estilo. O Carmo tem estilo. É um estilo distinto e bem definido. O seu estilo, não é exclusivo dos Padres Carmelitas ou das Irmãs Carmelitas. É um estilo que é propriedade da Igreja, disponível a todos cristãos, a todos aqueles que querem subir, superar-se, transformar-se, chegar a alcançar algo muito belo e digno na sua vida. Não é preciso que venham para o convento, porque é um estilo que pode ser alcançado em qualquer parte, onde viva e trabalhe quem se sentir tocado pela beleza do Monte.
Todos os caminhos do Carmo são iluminados e acompanhados por Nossa Senhora, pelo seu exemplo e pela sua presença. O rico simbolismo do Carmo constitui-se durante séculos sob o seu olhar, porque ela, nossa Mãe e Irmã, é nosso modelo e fundamento exemplar.
Maria do Carmo é contemplativa. É limitada e vive da fé, Maria é vivida e comprometida. Ela pode falar-nos muitíssimo de espiritualidade, de silêncio interior, de contemplação de Deus, de simplicidade, de serenidade através dos acontecimentos da vida, de sacrifício pelos irmãos, de tudo o que é bom.
O mês de Julho, o da festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo, é um mês de reflexão e de revisão de vida para todos aqueles que vivem na Igreja a ilusão, o ideal do Carmo.
Chama do Carmo I NS 78 I Julho 11, 2010

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