domingo, 6 de novembro de 2011

1811 - 2011: bicentenário do nascimento do Bem-aventurado francisco palau de Jesus Maria e José, carmelita descalço


Cumpre-se no próximo dia 29 de Dezembro o bi-centenário do Nascimento do nosso irmão Carmelita, o Bem-aventurado Francisco. Viveu Carmelita num tempo atribulado que não lhe facilitou a vida e lhe fortaleceu a fé. A sua memória litúrgica celebra-se esta semana, Segunda-feira, dia 7. A sua vida é um belo testemunho de fidelidade a Jesus. Fomos buscá-la ao livro Música Calada. Vale a pena ler.
Francisco nasceu a 29 de Dezembro de 1811, em Aytona, província de Lérida, Espanha. No dia em que nasceu o baptizaram. Aprendeu desde pequeno, com seus pais, a rezar em casa e a dirigir-se à igreja para a oração comunitária. Muito cedo mostrou a sua inteligência, o que levou os seus pais a decidirem possibilitar-lhe os estudos. A sua adolescência e juventude decorreu em plena guerra.

A seu pedido entrou no Seminário diocesano de Lérida, aos 14 anos. Durante sete anos permaneceu aí com excelentes resultados. Aos 21 anos decidiu fazer-se Carmelita, ao que seus pais se opuseram. Depois de muita oração, e vencidas as dificuldades, o jovem pôde entrar no Carmo de Lérida, passando depois para o noviciado de Barcelona. Aí recebeu o nome de Frei Francisco de Jesus Maria e José. Em 1833 fez a sua profissão religiosa, apesar de arder já a fúria que incendiará conventos e martirizará religiosos.
Em 1835 consumou-se a Revolução. Frei Francisco que se encontrava no Carmo de Barcelona fugiu saltando por uma janela, vindo a ser recolhido e escondido. Indo-lhe no encalço descobriram-lhe o rasto que conduzia ao seu refúgio. Depois de o terem procurado por toda a casa, e não o tendo encontrado, obrigaram a senhora que o havia recolhido a abrir um armário que estava fechado à chave. Não o conseguiram abrir. E quando o tentaram com a chave, esta partiu-se. Mais tarde, Frei Francisco comentou o caso dizendo que nesse instante fizera o sinal da cruz sobre a fechadura pedindo a Deus, com toda a fé, que o protegesse. Ao fim de dois dias conseguiram prendê-lo. Mas foi posto em liberdade após ter sido vexado e torturado. Foi, então, viver para casa de seus pais, permanecendo unido à Ordem. Foi ordenado em Barbasto, após o que ficou como pároco da sua terra natal. Tomou como residência uma gruta existente numa quinta de seus pais. Apesar de ser perigosíssimo mostrar que era frade jamais tirou o hábito castanho e a capa branca dos Carmelitas.
Um dia, quatro revolucionários, vendo-o vestido com o hábito Carmelita comentaram: — «Mas não disseram que tinham morto todos os frades? Então escapou este? Vamos torcer-lhe o pescoço como a um frango e não cantará mais». Uma noite resolveram atacá-lo na gruta e matá-lo. Um deles desistiu antes de começar. Dois deles a meio do caminho. O último decidiu-se a matá-lo sozinho. Quando Frei Francisco viu o seu assassino, perguntou-lhe o que desejava àquela hora tão tardia, levando como resposta que vinha para o matar. Sem perder a paz respondeu-lhe: — «Melhor seria que viesses para te confessar e pedir perdão dos teus pecados, que há mais de vinte anos andas longe dos caminhos de Deus. Já é hora que te arrependas, porque não sabes quando Deus te chamará a contas».
Iniciou a confissão e o assassino caiu de joelhos aos pés daquele a quem viera matar. Quando o homem regressou, comentou aos companheiros:  — «Eu ia para o matar; e ele é que me matou a mim. Deve ser um santo. E disse-me para vos dizer que também vós deveis ir confessar-vos a ele. Tem um coração de oiro».
Foi um grande apóstolo de Deus. Aconselhava a todos receberem o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Certo dia anunciou ao Chefe dos exércitos espanhóis, que apesar de defenderem a Igreja contra os revolucionários, perderiam a guerra, pois, apesar de dizerem defender Deus e a Igreja, viviam como grandes pecadores. O seu recado ao Conde de Espanha foi profético: — «Venho do céu e a minha missão é notificar-te que a causa de D. Carlos está perdida. Dobra a bandeira, embainha a espada e retira-te com o teu exército para França. E não me chames traidor, pois sou ministro da paz e é o céu que me envia a ti; Deus vos rejeita, pois vós invocais a Deus e blasfemais o seu nome. Sois um exército corrompido e não tendes a Deus por vós, porque sois maus cristãos».
Terminada a guerra passou também ele para França, continuando a sua vida santa. Ali começou a escrever e publicar ópusculos e livros. Em 1851 deixou a França. Uma vez em Barcelona fundou a célebre Escola da Virtude, onde catequizou imenso. O Governo lançou contra ele uma caluniosa campanha, suprimindo a Escola e desterrando-o para as Ilhas Baleares. Aí continuou a sua vida de santo e de apóstolo.
Para onde se deslocava, sempre levava consigo uma imagem de Nossa Senhora do Carmo, que mostrava quando pregava ou quando confessava, dizendo às pessoas que deviam ser muito amigas e devotas de Nossa Senhora do Carmo. Para a gruta de El Vedrá se retirava frequentemente, durante doze anos seguidos. Acerca de El Vedrá escreveu: «Atravessei uma montanha, onde, de noite, sem caminho, entre tempestades, tive de sofrer ataques de todas as partes. Agora, aqui, que feliz que eu sou! Que bom seria não ter de sair daqui! Os anjos não saem do céu para a terra senão forem enviados por Deus. Para mim esta solidão é o céu».
Em 1860 levantaram-lhe a pena de desterro. Frei Francisco, que iniciara a Fundação dos Irmãos e das Irmãs Carmelitas Missionárias, regressa, agora, para essa comunidade. As Irmãs são hoje duas grandes famílias: as Carmelitas Missionárias e as Carmelitas Missionárias Teresianas.
Não tardou muito a ser preso. Uma vez julgado, foi absolvido. De seguida dirigiu-se a Roma para expôr os seus pontos de vista ao Concilio Vaticano I. Quis encontrar-se com o Papa, mas foi impedido por o hábito que usava ser muito pobre. Escreveu, então, ao Papa uma carta: «Que fizeram da casa de Pedro? Vem um filho de terras longínquas para visitar o seu Pai e não o deixam vê-–lo?», perguntou. Quando o Papa a leu ordenou que lhe fosse permitido entrar no palácio. Pio IX quis comer, nesse dia, com ele, dando-lhe oportunidade para profetizar que os Estados Pontifícios seriam tirados à Igreja, o que veio a acontecer.
No dia 10 de Março de 1869 chegou a Tarragona, caindo doente com uma pulmonia. Foram chamados os Padres Carmelitas, que o assistiram nos seus últimos momentos. Ouviram--no dizer: «Nunca quis outro caminho senão o da cruz. Meu Deus mudastes a minha sorte! Eu queria morrer arrastado pelas ruas de Barcelona, para vossa honra e glória. Ao menos quero morrer abrasado no vosso amor».
Era o dia 20 de Março de 1872.
A grande obra de Francisco Palau foi o amor à Igreja que ele experimentou e que foi crescendo por entre sofrimentos, perseguições, trabalhos apostólicos, e, sobretudo, nas luminosas e pacíficas solidões onde experimentou a «música calada, a solidão sonora e a ceia que recreia e enamora», que experimenta a alma que ama a Deus, como fala nosso pai S. João da Cruz.
Chama do Carmo I NS 122 I Novembro 6 2011

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