sábado, 3 de novembro de 2012

Amar o outro para amar a Deus

Quem segue Jesus encontra-se sempre em marcha para Jerusalém. Jerusalém, a capital do judaismo, será o lugar onde acontecerá o lugar fundador da fé cristã: a morte e ressurreição de Jesus.
O evangelho deste domingo posiciona-nos no fim da caminhada, precisamente em Jerusalém. O evangelista Marcos vai oferecer-nos para meditação um diálogo entre Jesus e um simpático escriba que acabará impressionado pelas respostas do Mestre. Uma questão aproximou o perito em leis de Jesus, e foi esta: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» Não foi nada fácil para Jesus o último confronto com os sacerdotes, os escribas, os dirigentes do povo que residiam em Jerusalém.
Por entre tantas disputas pôde, porém, Jesus, saborear diálogos cálidos com alguns deles. À interpelação daquele escriba não respondeu sem mais com os mandamentos, porque, de facto, na religião judaica que ambos professavam, eles são uma montanha enorme! Jesus simplesmente lhe recitou a oração do Shemá que todo o judeu piedoso ainda hoje recita três vezes ao dia. (É a oração que encontramos hoje na primeira leitura da nossa Missa.)
Ao mandamento de amar a Deus (presente no Shemá) Jesus associou outro mandamento, e essa foi a sua originalidade que espantou o sábio da Lei: «Amarás o próximo como a ti mesmo». Este segundo mandamento completa o primeiro e os dois juntos não são mais que um!
Qual é pois a mensagem para este domingo?
1. Jesus é o verdadeiro profeta. Se Marcos narra este diálogo sereno imediatamente antes da condenação de Jesus, isso ajuda a perceber que Jesus poderia não ter sido condenado, sentenciado, martirizado. Aquele escriba é um especialista da Lei e acabou aprovando Jesus, reconhecendo-o como profeta de Israel: «Muito bem, Mestre.», confirmou a Jesus.
2. Jesus é a incarnação do Amor. O evangelista João tem várias formulações a este respeito, e numa diz: «Se alguém disser que ama a Deus e odiar o seu irmão é mentiroso»!
Marcos e João estão de acordo acerca de Jesus e do seu entendimento dos mandamentos e na forma como no principal se juntam Deus e o próximo. Talvez assim se possa entender que para Jesus Deus não deseja ser amado sozinho, que amar só se conjuga e se entende no tempo presente, que amar a Deus no próximo e o próximo em Deus é muito melhor que as oferendas e sacrifícios a Deus! Talvez devamos entender (e dizê-lo, e manifestá-lo) que a busca de Deus não se pode fazer fora dos caminhos do amor, fora do compromisso com o próximo, e que tal busca nos impele a apressar o passo de acordo com os batimentos do coração!
3. O maior mandamento hoje. A questão do sábio escriba tinha o seu quê. A verdade é que a Lei de Moisés que orientava a religião judaica tinha inscritos 613 mandamentos! Convenhamos: era algo difícil perceber qual deles seria o maior. Jesus evidenciou os dois que resumiam a montanha dos demais. Mas, afinal, como os vemos nós, hoje? Eis uma boa questão! Com facilidade esquecemos a agilidade que Jesus nos legou, e também nós ajuntamos e nos embrenhamo em preceitos, regras, interditos e doutrinas que fantasiam o cristianismo.
Valha aqui a recordação dos três degraus do amor propostos por S. Agostinho. O primeiro degrau supõe que todos gostamos de ser amados; e ou somos masoquistas ou é mesmo verdade. Por isso tanto amamos os que nos amam.
O segundo supõe amar o amor, fazer bem, ser-se generoso, ser-se até algo excessivo em dar, em dar-se.
O terceiro degrau e o mais elevado é simplesmente amar. Amar sem mais. Amar sem desejar retorno, por pura gratuidade. O modelo deste estilo de amor é Jesus. É Jesus que inspira o amor cristão que vale mais que todas as oferendas e sacrifícios. E se ainda não for assim é porque a beleza do amor ainda não foi por nós contemplada. Onde existirem suspeições, condenações, exclusões, aí ainda não reina o amor a Deus e ao próximo. E que pena é se elas existirem na nossa Igreja!
Resta-nos ainda, é certo, um longo caminho para ser verdade aquela afirmação de São João: «Sim, nós acreditamos no amor!»

Chama do Carmo I NS 161 I Novembro 4 2012

1 comentário:

M disse...

O vdrdadeiro fruto do amor é ser. E eu, amo porque amo, amo para amar. Amo o amor, mesmo que este se tenha ausentado de mim...