sábado, 18 de janeiro de 2014

Divino Menino Jesus de Praga, o Menino da Princesa


Reizinho. As legendas são tão reais tão reais que fincam as raízes na alma dum povo. Como esta raramente hoje se entrevê muito facilmente se negam ambas. É o que sucede com a história do Divino Menino Jesus de Praga para onde já peregrinaram muitas vezes os nossos pés e muitas mais vezes as nossas almas. Já o Setecentos ia bem lançado quando a história do Reizinho tomou forma, embora, em boa verdade, ela nos chegue desde bem antanho, desde os fundos da gruta de Belém e das quentes palhas da manjedoira.
Corria o ano de 1628. Na brilhante cidade de Praga vivia viúva e voltada para os seus dois meninos, a princesa Polixena Lobkowitz.
Certo dia, ao chegar em casa, o príncipe Wenceslau encontrou a jovem mãe, extasiada, em oração diante da imagem do outro Menino.
Ao aproximar-se de sua mãe, ficou encantado com a cena e exclamou: Mamá! Mamá! Como estás linda rezando ao Menino! Pareces a própria Virgem Maria em adoração ao seu Filho.
– Não blasfemeis, Wenceslau! Eu estava a rezar e a meditar e pareceu-me ouvir a voz de uma criança fazendo-me um pedido!
– E o que pedia, mamá?
– O Menino recordava-me todas as bênçãos derramadas sobre a nossa família, desde os tempos em que a imagem estava na casa de minha mãe; de quem, aliás, O recebi... Sabe, Wenceslau, eu senti em meu coração, que o Menino desejava ser venerado por todos, e que as graças derramadas deveriam ser para todos.
O Menino deseja ser o consolo dos aflitos, o alívio dos angustiados, o remédio para os doentes.
E a Princesa lá foi revelando ao menino do seu seio a intenção de levar o Menino do seu coração para o Carmo de Praga, onde tivesse um oratório na Igreja de Nossa Senhora da Vitória.
O Carmo de Praga passava sérias dificuldades: o que os Padres Carmelitas dispunham para comer era tão pouco, que viviam em constante espírito de jejum e penitência. Confiantes, aguardavam um sinal do céu.
E naquele mesmo dia a Princesa Polixena encaminhou-se para o Carmo, com o rico e adorado Menino Jesus em suas mãos.
Quando Frei João Luis da Assunção abriu a porta do convento, caiu por terra de joelhos diante da bela imagem do Menino Jesus. Sentiu em seu coração o sinal do céu, a tão esperada resposta de Deus.
– Padre!, disse-lhe a Princesa, eu vos ofereço o que de mais precioso tenho no mundo!, e acrescentou: Honrai esta imagem do Menino Jesus e tende a certeza de que enquanto Ele aqui for venerado, nada vos faltará!
– Bem sei, Princesa, respondeu o Prior, o quanto esta imagem é valiosa para vós e vossa família! Tenho a plena certeza de que a oferta que nos fazeis é uma inspiração divina!
A chegada da milagrosa imagem do Menino Jesus trouxe alegria e júbilo ao convento. Muitas e incontáveis foram, entretanto, as graças alcançadas. As parreiras que há tempos não davam frutos, ficaram carregadas. Dia após dia a providência divina manifestava a sua bondade. Com o Menino chegaram os tempos da fartura e da abundância.
No Natal do ano de 1629 vivia no convento o Padre Cirilo da Mãe de Deus que por aquele tempo sofria por uma terrível crise de fé. Como última tentativa, lançou-se aos pés da imagem e em prantos implorou que o Divino Menino lhe devolvesse a fé perdida.
De repente, o padre Cirilo viu-se envolto numa nuvem de luz: o Menino tornara-se menino, menino vivo e luminoso. E no mesmo instante um sentimento de paz envolveu o piedoso Carmelita, e um banho de fé lhe inflamou o coração.
O Menino Jesus escolhera, a partir daquele momento, o seu fiel e dedicado apóstolo. Pouco tempo depois estoirou uma guerra sangrenta: os hereges invadiram a cidade de Praga. E na embriaguez da fúria destruíram conventos, igrejas, oratórios. Os Carmelitas houveram de fugir apressados e tudo ficou para trás, até mesmo o Menino!
Os altares foram destruídos e saqueados, as imagens foram profanadas e mutiladas. Os novos senhores, o fogo e a destruição, impuseram a dura lei das cinzas e dos escombros.
Foi somente no ano de 1635 que foi firmado o acordo de paz. E então todos os monges, frades e sacerdotes alcançaram licença para regressar. Era um tempo novo, de esperança e de paz. Os Carmelitas retornaram ao seu convento. Eram tempos difíceis, aqueles. Frei Cirilo tardou ainda dois anos, e que desespero quando não encontrou a imagem do Reizinho! Bateu de lés a lés, cada recanto do convento. Encontrou cinzas, escombros e por fim a imagem do Menino sem a mão que abençoa. Em lágrimas exclamou:
– Quanta maldade, cortaram a mão do Menino Jesus!
De novo se prostrou-se de joelhos e implorou perdão ao Menino, por tantas ofensas e ultrajes cometidos. Por fim, o padre Cirilo ouviu a voz do Menino, uma voz triste! Implorava que lhe fosse restituída a sua mão amputada, e disse:
– Quanto mais me honrardes, mais Eu vos favorecerei!
Correu o padre Cirilo a contar ao superior o pedido do Menino, porém o que dele ouviu não lhe agradou. Explicou-lhe o superior a real situação do convento e o quanto seria custoso pagar pela restauro da imagem do Menino Jesus.
Mais eis que naquele dia, inesperadamente, apareceu no convento o coronel Wolf. Vinha triste e abatido. Estava angustiado com uma terrível situação que vivia. Aproximou-se do Divino Reizinho e clamou por milagre. Dias depois, mais leve, retornou o coronel, para agradecer ao Menino Jesus a graça alcançada. Em troca ofereceu-se para restaurar a imagem e restituir-lhe a mãozinha.
Os dias sucederam aos dias e incontáveis foram as graças derramadas pelo Menino Jesus. E o culto ao Menino difundia-se ao longe e ao largo, cada vez mais e mais pela Boémia e pelo Império Germânico. Num certo dia estando o padre Cirilo em oração, apareceu-lhe a Santíssima Virgem, que lhe disse:
– Desejo que o oratório do meu filho seja colocado ali!
E apontou para o lugar.
Não estavam ainda encerradas as dificuldades do caminho. Agora fora roubada a imagem do Menino e por fim restituída. Que sobressalto!
No dia 13 de Janeiro de 1741, a imagem foi por fim entronizada na Igreja de Nossa Senhora da Vitória, e desde ali acolhe os seus devotos e as graças foram abundantemente derramadas.
Quatro anos depois, em 1675, aos 85 anos de idade, o padre Cirilo foi para a casa do pai. Cansado e santo morria o apóstolo do Divino Menino Jesus de Praga.
A família do Carmo é o berço do Menino Jesus. A nossa confiança no Menino Jesus é sem medida, pois nele tudo é grandioso e majestoso, e, afinal Ele é, simplesmente, o nosso Reizinho. Menino e Rei, homem e Deus!
Ó Divino Menino Jesus, abençoai-nos!
Hoje e sempre, Divino Menino Jesus, defendei-nos e guardai-nos.
Amen!

Chama do Carmo I NS 213 I Janeiro 18 2014

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