terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Parágrafo teresiano


Quando se tiraram do público muitos livros em língua vulgar, para que se não lessem, senti-o muito, porque me recreava lendo alguns e já não o podia fazer por só os permitirem em latim. Disse-me o Senhor:
Não tenhas pena, que Eu te darei livro vivo. Não podia entender a razão por que se me havia dito isto, porque ainda não tinha visões. Dali a bem poucos dias o compreendi muito bem porque, tenho tido tanto em que pensar e com que me recolher no que via presente,
e o Senhor tem tido comigo tanto amor em me ensinar de muitas maneiras, que muito pouca, ou quase nenhuma necessidade tenho tido de livros. Sua Majestade tem sido o verdadeiro livro onde tenho visto as verdades. Bendito seja tal livro, que deixa impresso o que se há-de ler e fazer, de maneira que se não possa esquecer! Quem vê o Senhor coberto de chagas e aflito com perseguições, que não as abrace e ame e deseje? Quem vê alguma coisa da glória que Ele dá aos que O servem, que não reconheça que é nada tudo quanto se possa fazer e padecer, pois tal prémio esperamos? Quem vê os tormentos que padecem os condenados no inferno que, em sua comparação, não pareçam deleites os tormentos de cá da terra, e não reconheça o muito que deve ao Senhor por o ter libertado tantas vezes daquele lugar?

Santa Teresa de Jesus (1515 - 1582) - LIVRO DA VIDA (26:5)

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