sábado, 18 de abril de 2009

90º capítulo Geral

Teve lugar no dia 17 de Abril, a abertura oficial do Capítulo Geral da nossa Ordem, que decorrerá até ao próximo dia 8 de Maio. O 90º Capítulo Geral decorre em Fátima e é o segundo que acontece no nosso País, depois de em Maio de 1585 se ter realizado o primeiro, no Convento de São Filipe de Lisboa (haveria de ser concluído em Pastrana, Espanha), com a presença de São João da Cruz. O de Lisboa elegeu Provincial (na prática, Geral) o Prior do Convento de Génova, Frei Nicolau de Jesus Maria Dória.
O 90º Capitulo pode ser acompanhado num site criado para o efeito, com actualizações constantes. Este site dispõe dum canal de comunicação directa para que todos os que desejem possam entrar em contacto com a Assembleia Capitular e fazer chegar as suas mensagens. O tema geral é ‘Para vós nasci’, por forma a antecipar as celebrações o V Centenário do nascimento de S. Teresa de Jesus.
Pode aceder através da seguinte morada: http://www.carmelitasdescalzos.com/capitulo.
«Vossa sou, para Vós nasci, que mandais fazer de mim?» é o refrão dum poema-canção de Santa Teresa de Jesus. É também o mote do 90º Capítulo Geral da nossa Ordem, reunido em Fátima. É ainda a alavanca certa para as celebrações do V Centenário do nascimento (1515) da Santa Fundadora. Este mote ou lema recorda-nos que ao nascer nascemos para os outros e para Deus, e que ser Carmelita é ser‑se para a Igreja e para o mundo.
A fecundidade criativa de Teresa acontece em Castela-a‑Velha e sobretudo a partir de 1560, até à sua morte em 1582. O seu lugar ocupa-o ela como capitã na senda das propostas do Concílio de Trento, que vira rasgada a unidade da Igreja. Teresa, em ponderado contraponto ao rasgamento, oferece à Igreja uma proposta carismática de vivência da fraternidade e da contemplação ao serviço do Reino. Sabia-se testemunha, amiga e esposa de Cristo, mas sempre ao serviço da Igreja; e por isso dirá: «Em matéria de fé, eu preferia morrer mil vezes do que opor-me a qualquer coisa da Igreja ou a qualquer verdade da Sagrada Escritura.» (Livro da Vida 33:5)
A sua vida será contemplativa, activa, fecunda. E será assim que contagiará a muitos e a muitas, arrastando-os em pós si. E à medida que irá crescendo na companhia Daquele que sempre nos acompanha, arrastará outros para a conjugação em profundidade desse diálogo de amigos, para a defesa da Igreja, para o serviço de Sua Majestade, porque, como dirá, só se pode dar razão certa daquilo que se faz experiência! E é assim que a vida carmelitana se renova enquanto vida de oração com propósito apostólico, conquanto seja solidária com a vida dos defensores da fé: anunciadores, pregadores, professores, catequistas, teólogos, missionários.
Enfim, a vida de Teresa é uma experiência intensa de Deus e de Cristo que ela injecta nas suas comunidades, por palavras e por escritos, para satisfazer as urgências eclesiais que se faziam sentir na velha Europa de então e não só.
Um Capítulo Geral com tudo o que o envolve (oração, propostas, reflexão, anseios, decisões) é um serviço que uma comunidade de irmãos presta à Igreja; é um acto cujos frutos brotam no tempo muito além do seu acontecer. Assim sendo, o 90º Capítulo Geral deveria constituir-se como uma humilde tentativa de resposta aos homens do nosso tempo marcados pela falta de fé e pela busca inquieta de respostas para o sentido da vida. Assistimos nos tempos que correm a um despertar religioso e a uma busca espiritual nem sempre bem dirigidos e as mais das vezes buscando saciar-se em fontes que à sede só acrescentam sede e mais sede.
Faltam, sentimo-lo, testemunhas credíveis da amizade com Deus, testemunhas do terno abraço do Amigo, testemunhas para quem falar Deus e levar para Deus seja tão urgente como matar a fome e vestir o nu, porque uma e outra tarefa se implicam e ambas complementam o mandamento maior do amor.
A fé cristã é co-edificadora de sociedade, ainda mais em tempos de crise. Apesar de traídos pelos nossos consócios que levaram muitos à ruína, precisamos de colaborar com eles e com todos, e de acreditar que Deus quer o bem da Humanidade e que se recusa a abandonar-nos aos tubarões!
São, pois, necessárias comunidades onde o Espírito Santo exponencie a experiência do perdão como alavanca de re-criação do mundo.
Tomé — no Evangelho deste Domingo, João 20:19-31 — ousou pedir um encontro pessoal com o Ressuscitado, sem se fiar da experiência que os outros lhe contavam. E Jesus deixou-se tocar por aquela honesta incredulidade, aceitando assim que por essa via qualquer um de nós o possa experimentar vivo em sua vida. É como se dissesse algo parecido ao que mais tarde disse Teresa: Para vós nasci, para vós ressuscitei. (Como disse Teresa e tem de dizer qualquer um de nós, com os olhos rasos e o coração alegre, ambos postos no Ressuscitado e para serviço urgente do outro.)
Chama do Carmo I NS 27 I 19 de Maio de 2009

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