Em Portugal é mais conhecido por Beato Nuno, mas também era conhecido e invocado como Santo Condestável. À sua morte no dia 15 de Agosto de 1425, deram voz em Lisboa que tinha morrido o «Santinho do Carmo», morrera Frei Nuno de Santa Maria. Choraram-no os grandes e os pequenos; o povo, os militares e os reis. E sobretudo os pobres.
Hoje, Domingo, 26 de Abril, a Igreja proclama-o santo, isto é, digno de culto universal dos fiéis, seu intercessor e modelo do seguimento de Jesus Cristo. A nossa alegria brota daqui: aquele que há séculos era o pai dos pobres de Lisboa é-nos hoje re-apresentado como pai no céu. Pai, amigo, irmão, intercessor, padroeiro, porque o nome é o que menos interessa.
Nuno Álvares Pereira nasceu em Cernache do Bonjardim (ou no Crato) no dia 24 de Junho de 1360. É um dos 26 filhos de D. Frei Álvaro Gonçalves Pereira, Prior do Crato, da Ordem do Hospital de Jerusalém.
Aos 13 anos entrou na corte de D. Fernando, como pagem da rainha D. Leonor Teles.
A sua juventude ficou marcada pela bravura frente aos castelhanos que cercaram Lisboa. Foi de seguida armado cavaleiro pela própria Rainha, revestido com as armas do futuro D. João I.
Aos 25 anos foi nomeado por D. João I como Condestável de Portugal, a figura militar mais elevada do Reino. Logo de seguida conquistou o Minho para a causa da coroa portuguesa, e a 14 de Agosto de 1385 desbaratou o exército castelhano em Aljubarrota.
Ao serviço do Reino foi militar invencível, ao ponto de a ele se dever a independência.
Como homem, militar e cristão sobressaem em D. Nuno a sua integridade moral, a entrega à causa nacional, a piedade cristã, lealdade, valor, justiça. Por isso, e mais, lhe chamam herói e santo; herói da nação e santo da Igreja. E se hoje espanta que os epítetos andem juntos, não assim naquele tempo.
Depois de ter assegurado o Reino contra a sofreguidão de uns e a descrença de muitos (menos do povo humilde), senão de todos e até do Rei D. João I, entregou-se a outras causas, sobretudo à piedade e à caridade.
Em Lisboa construiu o Convento do Carmo, que ficou concluído em Julho de 1389. Em 1414 morreu-lhe a filha Beatriz, a única que lhe deu herdeiros; em 1415 participou na expedição a Ceuta, porta da gesta expansionista ultramarina.
Em 1422 distribuiu os títulos e propriedades pelos netos e seus lugar-tenentes e um ano depois, a 15 de Agosto de 1423, com 63 anos de idade, professou no Carmo como simples irmão Carmelita. Viveu como Carmelita 8 anos, embora há muito se tivesse consagrado a Nossa Senhora e à causa da oração e dedicação aos outros. Passou sete anos a pedir esmolas como um pobre, pelas ruas da Capital com um saco na mão, a fim de socorrer o Convento e os pobres. A todos deu bom exemplo de oração e penitência, de amor aos pobres e a Nossa Senhora do Carmo. Na Nota Pastoral dos Bispos de Portugal, de 6 de Março, sobre a sua canonização destaca-se: o valor do homem de Estado que serviu a Nação; o valor do cidadão que escolheu ser solução para uma sociedade em crise; o valor do discernimento: até mesmo quando era poderoso e rico, soube, humilde, entregar-se à causa dos pobres e dos fracos; o valor da atenção ao clamor dos necessitados e do auxílio pronto que sempre e incansavelmente lhes outorgou.
A Igreja portuguesa (e a Universal) e Portugal alegram-se com esta canonização. Não é para menos: os tempos são similares; ambos são de crise. Mas o nosso perde porque lhe falta um Dom Nuno, que, oxalá nos há-de socorrer do Céu!
ChamadoCarmo I NS28 I 26 de abril de 2009
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