domingo, 31 de maio de 2009

O Espírito Santo, esse Deus desconhecido e Amor mal-amado!

Já mais que uma vez me perguntaram o nome do meu Deus. E até mesmo cristãos, mo perguntaram por entre confusões e perplexidades. O nome do nosso Deus é Pai. Belo nome para Deus: Pai, Origem, Fonte. E é Filho e Espírito Santo.
Diz-nos a Teologia, suportando-se da Revelação, que o nosso Deus é Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Não há nesta proposição de fé qualquer degradação, como se um fosse menor que outro (embora seja algo inadequado falar de um e de outro!).
É certo, porém, que ao aderirmos a Deus fazemo-lo mais facilmente ao Pai e ao Filho, que ao Espírito Santo; Deus Pai e Deus Filho são figuráveis em categorias humanas, logo de mais fácil adesão.
O Espírito mais frequentemente figurado numa pomba, em vento, água ou fogo, é a real manifestação do Pai e do Filho, visível num abraço que ambos se dão e em que nos envolvem. E ainda assim, apesar desse abraço amoroso que nos dão, o Espírito permanece desconhecido e mal-amado!
No capítulo 19 dos Actos dos Apóstolos conta-se brevemente um contacto havido entre o Apóstolo Paulo e um grupo de discípulos baptizados no baptismo de João Baptista. Quando o Apóstolo lhes perguntou se tinham recebido o Espírito Santos, eles responderam singelamente: — Mas nós não sabemos quem é o Espírito Santo; nunca ninguém nos falou d’Ele!
Sim, de facto, ainda hoje, muitos baptizados continuam sem saber quem é o Espírito Santo, a viver a sua vida cristã sem se relacionar com Ele, desconhecendo que Ele é o doce Hóspede da alma. De cada alma! Ainda hoje o Espírito Santo é o Grande Desconhecido e um Amor mal amado! Ele não é um poder ou influência, nem uma energia, ou um fogo que se desaba sobre nós. Tem características pessoais, é uma Pessoa divina, isto é, tem características que lhe conferem uma identidade própria. Não desconheçamos o Espírito Santo, porque é o Espírito quem nos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido (Cfr João 16:13);
porque é o Espírito quem nos assiste nas nossas fraquezas, pois não sabemos orar como convém (Cfr Romanos 8:26);
Não é uma criatura, é Deus. Frequentemente rezamos ao Pai e ao Filho, e esquecemos o Espírito. Com razão, Paulo recomenda: Não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção (Efésios 4:30).
Se o Espírito Santo fosse uma criatura, então, como diz Santo Atanásio: «Não teríamos comunhão com Deus n’Ele; pois seríamos estranhos à sua natureza divina.»
Jesus declarou que ia enviar Aquele que o Pai prometera. Por isso, é o nosso Hóspede, e bem íntimo a nós, e nós o seu templo. É o Consolador, o grande dom prometido de Jesus. A tal ponto isso é verdade que só é possível uma vida cristã responsável e madura pelo crescimento em nós da graça de Deus, activado pela acção do Espírito Santo; de facto, diz-se no Livro dos Actos dos Apóstolos, que na primeira Igreja — e assim ontem, assim hoje —, os discípulos «perseveravam todos unidos na doutrina dos Apóstolos, na comum fracção do pão e nas orações».
O Espírito Santo é o selo de Deus, mas mais valeria dizer que, por culpa ou distracção nossa, é o Divino Ausente, Desconhecido e mal-amado, pois que, quem amará o que não conhece?
A 13 de Novembro de 1983, o Papa João Paulo II, beatificou Mariam Baouardi (1846-1878), nascida cristã na Galileia, e depois a humilde e inculta carmelita descalça Ir. Mariam de Jesus Crucificado. Pouca gente sabe quem ela foi. Foi mais uma discípula do Profeta Elias, com gosto pelas coisas simples e capaz de reconhecer a presença do Espírito na brisa suave.
Sendo o Espírito Santo para muitos da Igreja o Grande Desconhecido, esta humilde carmelita da Galileia era testemunha da sua acção e do seu culto. Para ela não havia oração válida sem que o Hóspede divino viesse «duma maneira ou de outra». Uma vez escutou uma voz do Céu, que lhe disse: «Se Me queres conhecer e seguir, invoca o Espírito Santo, que iluminou os Discípulos e continua a iluminar todos os que O invocam.» Com ela rezemos a sua oração ao Espírito Santo, que se tornou célebre um século depois que ela a aprendeu do seu Bem-amado:
Espírito Santo, inspirai-me.
Amor de Deus, consumai-me.
Pelo verdadeiro caminho, conduzi-me.
Maria, minha mãe, olhai-me.
Com Jesus, abençoai-me.
De todo mal, de toda ilusão,
de todo perigo, preservai-me.

Amén.

Chama do Carmo I NS 33 I 31 de Maio 2009

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