Este domingo é dedicado à devoção ao Menino Jesus de Praga. A palavra devoção vem do latim devotio, que quer dizer: voto e entrega, consagração e dedicação. Um devoto é alguém que se entrega e se consagra a alguém, neste caso à infância de Jesus. O Menino Jesus de Praga é uma imagem de Jesus no seu período infantil, que se encontra na Igreja de Nossa Senhora da Vitória, dos Carmelitas Descalços, na cidade de Praga. A imagem de cera mede 48 cm e passava de pais para filhos varões da família dos Duques de Nájera, embaixadores perpétuos da coroa espanhola em Praga. Foi esculpida, pensa-se, em Espanha, no séc. XVI. Em 1628 foi oferecida ao Prior do Carmo por Doña Polixena Lobcowicz que a tinha recebido de sua mãe como prenda de casamento. A Imagem foi objecto de grande devoção pública e ao longo do séc. XVII sofreu vários danos e agravos no decurso dos saques de Praga pelos exércitos protestantes. A devoção, porém, foi amplamente difundida pelos Carmelitas, que a velam nas suas igrejas e conventos, como é o caso do Santuário que lhe foi dedicado em Avessadas, Marco de Canaveses.
Não há Carmelita indiferente à santa infância de Jesus. A seguir narra-se brevemente a devoção do grande carmelita polaco S. Rafael Kalinowski ao Menino Jesus de Praga.
Como bom Carmelita que era São Rafael não podia deixar de alimentar uma devoção especial ao Menino Jesus; uma devoção transmitida por uma sã tradição da Ordem, muito estimada nos nossos dias; uma devoção que prodigaliza tantos frutos de maturidade espiritual e de santidade às pessoas.
A origem desta devoção ao mistério da Incarnação de Jesus e à infância do Senhor encontramo-la no nosso Santo ao tempo em que, condenado a trabalhos forçados durante dez anos na Sibéria, fazia a sua viagem para este seu terrível desterro. A viagem foi iniciada nos fins de Junho de 1864 e terminada após longos e penosos nove meses. Começou de comboio, continuou de barco a vapor subindo o rio Volga, seguiu depois em kibitki (carros puxados a cavalo) e finalmente a pé. Em Dezembro de 1864 chegou à cidade de Tomsk, onde permaneceu alguns dias. Foi ali que, na festa do Natal, São Rafael, às primeiras horas do dia, se pode recolher na igreja do lugar. Este acontecimento – como rezam as suas Memórias – trouxe-lhe «uma grande alegria». E, continuou o Santo, «no dia do Santo Natal para adorar o Pequeno Reizinho, o Santo Menino Jesus que vem até nós, sem evitar o frio que fazia na igreja, participei na Santa Missa: três por mim e três por um amigo da mesma desventura, doente de tifo e em perigo de vida». E não ficou desiludido o amigo Casimiro Laudyn, que se curou. Ficaram por isso amigos por muitos anos de vida.
São Rafael confessa que ao entrar na igreja de Tomsk e ao ouvir o som do órgão, não conseguiu reprimir as lágrimas. Era este um Natal diferente: condenado a dura pena e longe da família, celebrava ali um encontro único com o Menino Jesus na manjedoura; com o Senhor, na Eucaristia.
Conhecemos ainda outra descrição dum Natal siberiano do nosso Santo. É a de um seu amigo de prisão, o futuro frade capuchinho P. Wenceslao Nowakowski, que no opúsculo A vigília de Natal em Usole no ano de 1865 testemunhou a grande estima que São Rafael gozava entre os companheiros: no seu discurso natalício, São Rafael falou do Menino Jesus, da pobreza e perseguição revelados no nascimento e na fuga para o Egipto, e como esses acontecimentos ajudavam a encorajar todos os pobres e deportados da terra. Logo de seguida todos quiseram manifestar-lhe a sua alegria e partilhar com ele o oplatek (o pão branco do Natal), que evoca o significado etimológico de Belém (Bet-lehem: a casa do pão), e que prefigura simbolicamente o nascimento quotidiano na hóstia santa sobre o altar.
São Rafael venerava o Menino Jesus com o amor que reveste a Ordem. Desejava que o seu coração fosse um trono digno para o Menino Jesus e na sua actividade pastoral sempre animava os outros a fazerem o mesmo. Recordemos um dos seus textos espirituais: «Naquelas velhas imagens, uma chama-me particularmente a atenção: o Menino Jesus espera docemente por que quer encontrar uma digna morada no coração humano. Para começar, é o nosso próprio Salvador que arruma o nosso coração, o purifica, fortalece e adorna com a sua graça; por fim, o Divino Menino entra nele e encontra uma morada agradável».
A seguir acrescenta: «Menino Jesus perdoa os pecados do homem, e dá-lhe força para que se possa revestir de virtudes; concedei-lhe as vossas bênçãos, pois quereis que o coração do homem seja um altar da vossa presença».
E a concluir uma conferência espiritual às Irmãs Carmelitas, disse-lhes: «Que o Menino Jesus se apodere das vossas almas, para que possais cantar já na terra juntamente com os anjos: Glória a Deus nas alturas, e depois O possais ter no céu para sempre! E que tudo se faça por intercessão da Sua santíssima Mãe, a Virgem Maria».
Possa o seu exemplo animar-nos a imitá-lo na mesma expressão de amor e dedicação ao Divino Reizinho.
Chama do Carmo I NS53 I Janeiro 17, 2010
1 comentário:
Ddeus vos abençoe! Por esta bonita história! Santo 2010!
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