I.
«Não vos iludais, irmãos: quem trai a família não herdará o Reino de Deus» (Santo Inácio de Antioquia aos Efésios). Pensemos em algumas formas de traição ao amor, pois elas fracturam e, muitas vezes, ferem de morte a comunidade familiar:
1. o individualismo, que supõe um uso da liberdade, pelo qual o sujeito faz o que quer, o que lhe apraz, o que lhe apetece, sem ter em conta os outros;
2. a procura do prazer individual e dos próprios interesses acima dos interesses comuns;
3. a infidelidade, nos pensamentos, nos desejos, nos actos;
4. a intimidade e as expressões do “amor”, orientadas para a satisfação imediata e egoísta dos próprios desejos, assumidas como divertimento, fazendo da outra pessoa objecto de consumo imediato e descomprometido;
5. a mentira, a falta de respeito à palavra dada e a ausência de diálogo;
6. a incapacidade para se dar totalmente;
7. a facilidade na ameaça e na concretização do divórcio.
II.
O compromisso matrimonial supõe, por outro lado, um compromisso com a vida. Tudo aquilo que nega a vocação da família a ser “santuário da vida” atenta contra a verdade e a integridade da própria família. Pensemos em algumas formas de traição à Vida:
1. a violência das palavras e dos gestos;
2. o desprezo pela dignidade dos idosos, dos doentes, das pessoas portadoras de deficiência;
3. a recusa de um filho ou de «mais um filho», por mero comodismo ou pela ideia
insuportável de este poder ser mais um “peso” na família;
4. o desprezo pela integridade física e moral do corpo, nomeadamente pelo descuido da saúde e do descanso;
5. o aborto provocado, aconselhado, consentido ou praticado.
III.
Na família transmitem-se, com a fé, os valores humanos e cristãos da alegria, da coragem, da persistência, do amor ao trabalho, do respeito pelo próximo, da prática da justiça, da solidariedade fraterna, do acolhimento aos outros, do
sofrimento e da dor. Pensemos no nosso estilo de vida, contaminado pela mentalidade pagã, e que facilmente trai a nossa dignidade de filhos de Deus:
1. a procura exclusiva do bem-estar material, assente em ilusões e necessidades inúteis e que leva o reinado do «ter» sobre o «ser»;
2. a prioridade ao que efémero ou passageiro;
3. a prioridade ao que é mais fácil, ao que não exige luta ou sacrifício;
4. a recusa de tudo o que exija esforço, fidelidade, compromisso e sacrifício;
5. a vida vivida ao sabor do imediato e do momento; sem valores duradouros
6. o medo e o adiar das opções definitivas, sem compromissos sérios;
7. o uso imoderado, indiscriminado, acrítico e desacompanhado dos meios de comunicação social.
IV.
“Para amar, à maneira de Deus, é necessário viver nEle e viver dEle. Deus é a primeira «casa» do homem, e somente quem nele habita, arde com o fogo da caridade divina” (Bento XVI). Pensemos em algumas formas de empobrecimento espiritual, que enfraquecem a vivência cristã e a resistência da família aos riscos da cultura actual:
1. o descuido da oração pessoal, conjugal e familiar;
2. a indisponibilidade para a escuta e reflexão da Palavra de Deus;
3. a falta de participação nos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia;
4. o desrespeito pelo Domingo, como dia da pessoa e da Família: dia do repouso, da alegria, da celebração de aniversários, do convívio, do diálogo entre os esposos e entre pais e filhos, da solidariedade (com os parentes doentes, com os mais idosos, com as famílias em dificuldades, com as famílias imigradas).
5. o desprezo pelo Domingo, como o dia da Igreja, que se reúne à volta da mesa da Eucaristia, para celebrar o dom da Vida de Cristo ao Pai por nós.
6. o desprezo pelo Domingo, como «o dia da Igreja Doméstica» em que são purificados e reforçados os laços do amor e da unidade familiares;
7. o desinteresse pelas actividades pastorais da comunidade: catequese, educação da fé, obras sociais e de caridade.
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