sábado, 26 de dezembro de 2009

Haikus* de Natal

* O HAIKU é uma forma poética japonesa de três versos curtos que atingiu o seu apogeu no séc. XIX e vive um renascimento; expressa uma percepção da natureza.


Se a palmeira pudesse
tornar-se tão nina, nina
que o Menino a visse.

Gerardo Diego

No princípio
a Razão fez-se Vida
verdadeira.

A seguir, a vida
fez-se verdade
Razão inteira.

Verdade era a carne
Razão iluminada
de um Menino.

De tamanho natural
a luz e o Menino
foram aurora.

No meio do silêncio
a Palavra incarnou
o Menino falou.

Tão divina a Palavra,
as luzes
sonharam Deus.

Ninguém sabia
quem pudesse ser
ao nascer.

Maria e José
tiveram de aprender
a proceder com o Menino.

Quem era este Menino
onde iria
pelos caminhos.

Caminhos de ribeira
pela beira dos trigos
e dos lírios.

Pensaram e duvidaram
da divina infância
como meninos.

Desde o seu alto saber
pelo proceder
de um menino.

Encantou a sua figura
a quantos viram
como Deus era.

Cantaram aleluias
sorrisos e palavras
ao Menino.

Tão curta a felicidade,
tão longo o caminho
Cruz e condenação.

Aconteceu em Belém
uma noite escura
e a estrela.

A estrela desvelou
o tule da noite
caudais de luz.


Aurora iluminada
cravo o Menino
chamado Jesus.

Palavra criadora
peregrina
e revelação.

Breve a rosa
orvalho matutino
sorriso de Deus.

Natal és tu
puro menino
com destino.

Doce sorrir
do Menino
seu anúncio.

Voltou o Menino
a criar a luz
Deus Criador.

Breve o instante
nascer e morrer
longo suspiro.

Belém e Tabor
Tabor e Calvário:
o seu itinerário.

Deus-Homem
o homem-Deus
no Menino.

Vida e caminho,
verdade imortal
do Menino.

Visto e não visto
adivinhar a Deus
sem dizê-lo.

Estrela da noite
alma iluminada
a esperança.

Memória da infância
encantado paraíso
ao amanhecer.

Sono e ilusão
encontrar no Menino
a Deus.

Esperança incessante
vislumbrar a Deus
no Menino.

Encontro final
da Verdade
imortal.

Transita pela vida
como a brisa
e bebe-a.

Brisa e canção
de Natal
sem final.

Não lamentes o ontem
hoje sempre presente
no Menino.

Infinita memória
felicidade ausente
que se busca.

Hoje será amanhã
de prata e ouro
e escarlate.

Nunca mais a noite
só Natal
para sempre.

(P. Ernesto Herrero, Carmelita Descalço)

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