O tempo do Advento tem um salutar sabor mariano. É com a Virgem Mãe que melhor aprendemos a esperar o Sol que nasce da Aurora! Por isso, é algo muito belo celebrar neste tempo litúrgico 88a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, a Virgem Mãe.
A Sagrada Escritura ensina que Deus criou a Humanidade para a amizade e o diálogo com Ele. A primeira Humanidade manteve uma bela relação de comunhão com o seu Criador.
O convívio era belo, aprazível e muito apreciado pelo Senhor Deus que se comprazia
em dialogar e passear com a Humanidade. Mas na sua liberdade os humanos não quiseram continuar amigos de Deus. Era sim um belo diálogo, mas acharam que poderiam construir a vida e o mundo à margem do diálogo com Deus. E romperam o belo sonho de comunhão.
No início a felicidade tocava-nos e entrava nos graciosamente pelos poros. Não era preciso invocar o Senhor porque Ele era Presença como se não tivesse havido passado que não houvera, nem viesse a existir futuro duro. Comungávamos a Presença, éramos eternos e a morte ainda nada mordera. Mas isso não nos bastou! Quisemos disfrutar a existência como se a tivéssemos construído para nós e não nos tivesse sido oferecida como dom por Deus. Haveríamos de ser autónomos, porque, afinal, a vida é minha e eu faço o que quero!
E ficamos a falar sozinhos naquele tempo em que ainda não existiam botões!
E o que era belo porque era comunhão e diálogo deixou de o ser; e o que era saúde e sadio virou tragédia e angústia. O fechamento nunca deitou luz sobre assunto algum nem esclareceu nada. E foi o que de facto aconteceu. Abandonamos a alegria da liberdade e do diálogo e tornamo-nos uma humanidade fechada, ferida, estanque a Deus, desconfiada Dele, esforçando-nos por não perceber o alfabeto do amor que em nós Ele inscrevera. Somos por isso descontrolados, paradoxais, fechados e ainda assim sensíveis ao apelo para a abertura, desencontrados e destrutivos mas com ânsias de crescimento e de beleza.
E fomos por opção própria feridos de morte, marcados pelo pecado até à morte.
A Igreja crê e ensina que ao nascermos é assim que nascemos: caminhantes solidários num beco sem saída, incapazes de só por nós nos reabrirmos a esse reconfortante, belo e recriador diálogo primeiro.
É, pode dizer-se, uma situação miserável!
E foi desta existência amarga e labiríntica que Cristo nos libertou com a sua Incarnação, vida e morte, ressurreição e com o dom do seu Espírito.
A Igreja crê e ensina que a Mãe do Cordeiro que tira o pecado do mundo, foi preservada desde antes do seu nascimento, desta solidariedade com a inimizade entre a Humanidade e Deus. Ela é a Mulher eleita, revestida de justiça e salvação, de quem haveria de nascer o Salvador. Ela é a Toda Santa, a Toda Santificada. Desde o primeiro momento em que foi concebida no seio de sua mãe Ana, foi preservada por Deus de qualquer situação de pecado. Ela é a cheia de Graça, aquela em quem não há qualquer des-graça; Ela não é a dona da Graça, mas a completamente cheia de Graça. É a agraciada, sem mancha de inimizade. Não teve méritos para tal, foi escolhida. É a Eleita! Os méritos são todos do Cordeiro que Dela haveria de nascer: porque Ele era o Cordeiro sem mácula, Ela é a Cordeira Imaculada. Os méritos de Cristo antecipam se ao Seu nascimento e revestem a Mãe desde o instante primeiro da sua Conceição.
Toda a vida que rebrota canta o mistério que a faz nascer e é sempre para nós um sorriso de Deus. Também a de Maria.
Porque ia ser Mãe do Cordeiro foi preservada de toda a inimizade, daquela mancha negativa que a todos assinala. Ela e só ela pode fazer o Senhor exclamar: «Como és bela, minha amada, como és bela! És toda bela, minha amada e não tens um só defeito!» (Cant. 4:1.7)
Que o Senhor exclame assim!
Que o Senhor nos faça exclamar assim!
Que a Igreja nossa mãe cante assim!
Que a Humanidade exulte assim!
Ó Maria, Mãe de Jesus, bela cordeirinha sem mancha, já que sois concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!
Chama do Carmo I NS 47 6 Dezembro 2009
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