São João da Cruz é o primeiro descalço da Ordem Carmelitana. Teve uma existência curta de 49 anos, carismática e sofrida mas bastante geradora de vida. É o místico do despojamento, da desnudez espiritual, da totalidade de Deus e do amor à Cruz.
Nasceu perto de Ávila, em Fontiveros, Espanha, no ano de 1542. É filho de tecelões pobres.
Ingressou na Ordem do Carmo aos vinte anos, depois de ter estudado humanidades com os Jesuítas de Medina del Campo. Em Salamanca cursou Teologia e destacou-se dos seus colegas, razão por que foi nomeado prefeito dos estudantes Carmelitas.
Foi ordenado sacerdote em 1567, altura em que se encontrou com S. Teresa de Jesus que tratou de o entusiasmar com a nova Ordem do Carmo que estava prestes a gerar. Tornou-se então o primeiro Carmelita Descalço. Fundou o carmo Descalço no lugarzinho perdido de Duruelo, que será também o início duma história de incompreensões e perseguições de quantos se opunham à sua reforma. Feito prisioneiro no cárcere do Carmo de Toledo sofreu maus tratos e agressões físicas. Daquela reclusão de nove meses donde acabará evadindo-se, nascerá um santo conhecido como um dos maiores místicos, cujo itinerário espiritual continua a ser seguido por numerosos discípulos. S. Teresa de Jesus, S. Teresinha, S. Rafael Kalinowski, S. Paulo da Cruz, B. Isabel da Trindade, S. Edith Stein e o papa João Paulo II estão entre os seus mais fiéis.
Morreu no dia 14 de Dezembro de 1591.
As melhores descrições que dele existem são as de S. Teresa, que, embora, não tendo convivido muito tempo com ele, o conheceu profundamente. Diz a Madre: «O padre Frei João da Cruz é uma das almas mais puras que Deus tem na sua Igreja. Nosso Senhor infundiu lhe grandes riquezas da sabedoria celeste.»
Ela sabia do que falava.
A sua sabedoria espiritual não é fácil de sintetizar. O seu magistério une vida santa e ciência sagrada. O Papa Pio XI, que lhe conferiu o título de Doutor Místico da Igreja, baptizou as suas obras como «código e escola da alma fiel que se propõe empreender uma vida mais perfeita.»
Nos seus escritos nunca fala de si, embora os estudiosos identifiquem alguns textos como narrativa pessoal. Os seus ensinamentos visaram sempre e só conduzir as almas para Deus, isto é, uni-las a Ele por amor e pela transformação perfeita em Deus, até ao máximo seguimento e identificação com Jesus Cristo nesta vida.
Recorda frequentemente aos seus leitores que o cume da montanha é a sublime perfeição e deseja que todos a subam. A subida é necessária por que é o meio indispensável para o despojar de todas as coisas que são obstáculo à transformação em Deus.
Como profundo conhecedor do coração humano São João da Cruz ensina que «como o amor de Deus e o do homem são opostos, é preciso ir limpando a alma do amor das criaturas para que a graça a encha do amor divino.» Não pode haver melhor projecto de vida, porque facilmente se há-de entender que maior será a plenitude da alma quanto maior for o seu vazamento.
A quem se propõe seguir o caminho espiritual o Santo propõe quatro etapas ou noites; noites são o mesmo que purificações. As duas primeiras, as activas, são aquelas que a alma opera por si mesma, com o seu esforço. As segundas são aquelas em que Deus mesmo actua e purifica. São necessárias para nos fazer crescer no verdadeiro amor, que consiste em «despojar-se por Deus de tudo o que não é de Deus». A noite escura é por isso mais clara e certeira que a luz do meio-dia, porque situa o homem no seu centro mais humano e mais divino. E aqui é frequente sentir se a alma em aridez, desolação e até abandonada de Deus. Porém, porque nunca antes Dele esteve tão próxima, agora a prepara Ele para a vida e a oração místicas, que é quando a alma não fala mais, deixa de ser discursiva e permanece em silêncio amoroso diante de Deus. A alma apenas olha e cala, e a sua vontade está em Deus. E quando entra em si vê ainda trevas e vazio, que mais não são que luz em excesso. Porém, continua sendo imperfeita e com aumento da sede ardente de Deus, que mais aumenta quanto mais toma consciência dos defeitos e imperfeições. Por isso se pode dizer que o caminho espiritual da união, que São João da Cruz propõe é noite mais clara que a luz mais clara do meio–dia. É noite inundada da presença luminosa e amorosa de Deus, que tanto mais se derrama no coração humano quanto mais os baixios do coração se deixam esvaziar para O receber.
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