sábado, 19 de dezembro de 2009

Natal, olhar sereno!

Já é Natal? Não, ainda é Advento. Ainda é tempo de preparar o Natal. O Natal enquanto vinda e nascimento do Senhor exige um esperançoso trabalho de preparação: o Advento.
Então, Natal não é sempre que o homem quer? Não, também não. Natal é sempre, porque Deus quer. A parte do homem que tantas vezes se invoca no provérbio é bastas vezes a parte das luzinhas e musiquinhas, que só apelam à estapafúrdia do comércio. Seja de sentimentos nem sempre sinceros e transparentes, seja de coisas e mais coisas sem alma. E depois desse natal em que se rompem os laços e se rasgam os lustrosos papéis de embrulho pouco mais resta que a lareira de cinza fria.
O Natal é mais que laços, mais que papéis e fitinhas. São palhinhas e bafinho de animais congregados para aquecer e saudar o ignorado Jesus Salvador. Dentro de cinco dias é Natal. Porém, há ainda muito nevoeiro que remover. Natal. Olhar sereno. Olha que Deus te olha com amor. Olha teu irmão.

Natal
«O boi conhece o seu dono e o burro as palhas onde se deita, mas o meu povo não me conhece». Foi assim que acordei para o Advento, com este queixume de Deus, declarado na profecia de Isaías.
É (quase) Natal. A vaquinha estará junto ao dono, e o burrinho às palhinhas onde a Mãe deitará o seu dono. A Mãe, calada; o pai, silencioso. Os pastores virão quando avisados pelos anjos, e os Magos, pela estrela.
É Natal? É. Porque Deus quer e não tem medo de nós. Bastam-Lhe palhas fofas em nosso coração!

Olhar sereno
Olhar sereno tem Ele para nós, que no acordar terreno foi acolhido por um Justo e uma Imaculada. Olhar sereno, sim. Como só sereno é o olhar dos puros. Não tenhas medo, meu Menino. Não tenhas medo, que entre nós, agrestes, ainda há lábios puros para beijar meninos e mãos delicadas para os afagar. E olhos de espanto e de lágrimas perante o milagre de caber no mundo o que no Céu não coube!

Olha que Deus te olha
Olhar sereno para contemplar a Deus Menino; para contemplar o mimo de Deus, que nos revela o seu rosto que ninguém viu — a não ser o Filho — no rostinho do Menino de Belém!
Olha, Maria, que Deus te olha! Como Deus te olha!
Olha, José, que Deus te olha! Como Deus te olha!
Olhai, irmãos, olhai, pastores, que Deus nos olha! Olhai como Deus nos olha!
Ó feliz troca de olhares! Deus que nos olha e nós, humanidade para quem vem, olhando-O!
Ó serenidade, ó olhar de Deus!
Oh! valha-me Deus que nos olha com olhar puro, de menino como os nossos meninos. Que sempre tem para nós um olhar de bondade. Que sempre tem para nós presença que nos veste de formosura.
Oh! quem mereceria um Menino assim? Quem poderia querer ou esperar tão doce olhar, presença tão cálida, tão silenciosa e rica? Cessem as agruras, os frios e as nervuras, que Deus vem para olhar por nós. Que Deus vem olhar para nós! Oh! cessem, pois! Quem pode dizer esse olhar que nos olha sem nos magoar, esse olhar de bem e de cura que em nós derrama beleza, graça e formosura?
Ó suavidade do meu Deus, que nos toca suavemente a alma com o luar do seu olhar! Com o luar duns olhos de rosal!

Com amor
Ó olhar dum Senhor que é servo! Dum Senhor que nos serve porque nos serve; Ele vem para nós, servo humilde e pobre. Vem para dar, para dar-se como herança imerecida e inesperada, e tudo reclamar de nós porque tudo é Dele, criado por Ele, e a Palavra é salvação ainda que só seja gemido, vagido frágil, letra trémula, soletrada.
Ele vem olhar-nos com amor porque não sabe outra linguagem, outro abecedário com que possa dizer- se, outro dizer sem dizer.
Amor com amor se paga. Porém, facas de gume afiado e traições foi o que tantas vezes demos. Bênção e compreensão o que sempre nos devolveu. Com amor. Porque Deus é amar.

Olha teu irmão
Olha sereno o teu irmão. Muitos anos depois do nascimento do Salvador algo poderíamos ter aprendido. Mas a verdade é que ainda existem meninos que nascem em sítios que não são para nascer. A verdade é que existem crianças, homens e mulheres, velhos e doentes que vivem em sítios que não são de viver. E a verdade é que ainda assim é porque se é muito belo olhar o Deus Menino que nos olha com olhos de bondade, já não é tão belo olhar quem nos olha com olhos de fome, de desemprego, de droga, de violação, de velhice e de doença.
Em Jesus Deus vem ao encontro de cada um, e a cada um que olha leva-o serenamente ao encontro do irmão. Cuidadosamente, olha sereno o teu irmão.
E olha que Deus te olha no olhar do teu irmão.
Chama do Carmo I NS 49 I 20 de Dezembro de 2009

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