sábado, 25 de outubro de 2008

Ninguém caminhe sozinho!

Caminhemos de bem em melhor. Mas que ninguém caminhe sozinho. Eis aqui, Senhor, o meu irmão. Ei-lo, porque é teu!
Homilia da missa de compromisso na abertura do ano pastoral da nossa comunidade do Carmo
Ninguém caminhe sozinho!

Meus irmãos e minhas irmãs:
Iniciamos desta forma séria mas também amena e orante, o Ano Pastoral desta Comunidade de Nossa Senhora do Carmo de Viana do Castelo. À entrada da igreja encontra-se uma Folha — a Chama do Carmo — que ninguém deveria sair sem levar. É uma folhinha que, se Deus quiser, vai aparecer Domingo a Domingo. Entrai na igreja, dobrai-a e metei-a ao bolso. É para lerdes em vossas casas. É um apoio para durante a semana continuarmos em comunhão.
Haveis de reparar que na frente da Chama está uma procissão, um povo a caminhar. A escolha deste desenho foi intencional: quero que seja a marca d’água do nosso gosto de família do Carmo. Somos um povo a caminho, um povo peregrino que há-de caminhar sempre de bem em melhor. Já o disse esta tarde: para mim não é suficiente caminhar bem; para mim não é suficiente caminhar melhor; para mim é necessário e urgente pensar sempre, como disse santa Teresa de Jesus, em caminhar «de bem para melhor».
Vou ajudar-vos e pedir-vos que sejais sempre melhores! Coloquei esta frase no fronstispício da Chama do Carmo, mas tenho outra que quero guardem no coração, que é: Ninguém deve caminhar sozinho!
Vim para Viana do Castelo caminhar juntamente com o meu professor Pe Caetano, do meu professor Pe Carlos, do Irmão Domingos e do Pe Maciel, porque ninguém deve caminhar sozinho. Estes que nomeei somos os cinco religiosos carmelitas da comunidade de Nossa Senhora do Carmo de Viana do Castelo. Vim para aqui convencido de que só existe uma maneira válida de caminhar: caminhar em família, caminhando ao ritmo do mais pequenino, como a Patrícia.
Perguntaram na reunião de lançamento do Ano Pastoral: onde estão os jovens? Por que é que nas eucaristias não há jovens? — Talvez corramos muito, talvez não saibamos caminhar com eles. Talvez os deixemos a caminhar sozinhos. Comprometo-me a caminhar convosco: Não quero que nenhum de vós, meus irmãos Carmelitas, religiosos ou leigos, caminhe sozinho. Não quero que um de vós que seja caminhe sozinho! Subimos a este templo, estamos aqui, rezamos juntos nesta igreja, para nos animarmos a caminhar juntos, em comunidade!
Vejo nesta assembleia pelo menos um jovem, que aqui entrou pela primeira vez para celebrar eucaristia. Dá-me uma grande alegria! Mas até esse não quero que caminhe jamais sozinho. Porém, não queiramos ter a ilusão de ver as igrejas cheias se depois, durante a semana, caminhamos sozinhos!
O compromisso que juntos acabamos de assumir — o de servir esta comunidade de Nossa Senhora do Carmo de Viana do Castelo — é o compromisso de nunca jamais caminharmos sozinhos!
Seja qual seja a tarefa que nos corresponda na Comunidade (ainda que seja a da sempre discreta oração) façamo-la também por aqueles que não caminham connosco, por aqueles cujos pés não conseguem acompanhar-nos ou se desviam de nós. Também eles têm de caminhar como povo, embora, talvez, precisem mais, por agora, que celebremos a Eucaristia, ouçamos e comungue-mos a Deus e nela os lembremos a eles.
Os carvões quando dispersos, quando separados uns dos outros deixam de ser fogueira, deixam de aquecer, deixam de animar, esmorecem, ficam frios, cinza fria, sem vida. Ninguém, caríssimos irmãos, dos que ouvimos esta homilia e celebra-mos esta Eucaristia de Compromisso, pode deixar que alguém caminhe sozinho: ao menos lembremo-nos deles na nossa oração pessoal!
Segunda palavra que quero partilhar convosco: há uma pergunta na Bíblia que me inquieta, e que nós distraidamente passamos por ela sem dela nos apercebermos, talvez por estar quase no princípio. Ali, quase no princípio da Bíblia, narra-se que dois irmãos se pegaram, ou melhor um matou o outro. Depois, perguntou Deus ao irmão homicida: Onde está o teu irmão? E ele logo contestou: —Oh! Sei lá onde está o meu irmão! Eu não ando a guardar o meu irmão!
Nesta tarde em que iniciamos oficialmente o nosso Ano Pastoral, nós, irmãos, aqueles a quem foi confiado o cuidado de bem cuidar desta Igreja do Carmo — de bem tratar, assear, ler, cantar, zelar, servir —, nós, os que neste dia aqui nos reunimos como família cristã e carmelita, haveremos de responder em primeiro lugar à sua pergunta.
— Onde está o teu irmão? Claro que não matamos! Credo! Mas no coração de cada um de nós, tem de existir a vontade de responder ao que o Senhor pergunta: Em que sítio e em que situação andam os meus irmãos?
E pegando no Evangelho de hoje temos de sentir a urgência de responder, que a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Mas, cuidado! Não julguemos salvar-nos fugindo ou omitindo a pergunta. Porque só são válidas as respostas, isto é, só seremos salvos e verdadeiramente ressuscitados quando todos se salvarem, até aquele que hoje entrou pela primeira vez nesta igreja, para celebrar eucaristia. Só alcançaremos a plenitude quando todos estiverem salvos. Ninguém pense salvar a pele se não salvar a do irmão!
Onde esta o teu irmão? Não sabes? Então, vai trabalhar, vai procurá-lo, vai buscá-lo. Eu vim, Senhor, para trabalhar; eu vim para procurar exactamente aquele que falta e não os outros noventa e nove que já se saciam à tua mesa! Senhor — haveremos de dizer-Lhe: Deste-me um irmão por irmão, aqui está. Eu rezei por ele, trabalhei por ele, procurei-o, encontrei-o, aqui está, entrego-to porque é teu!
Eis-nos aqui, irmãs e irmãos, para nos entregar-mos ao cuidado amoroso uns dos outros, para trabalharmos afincadamente durante um ano, a fim de dar a Deus o que é de Deus e ao mundo o que é do mundo. A fim de fazer a Deus a justiça devida: dar-Lhe o filho que Lhe falta!
Não caminhemos sozinhos, não caminhemos despreocupados das situações e das vidas dos nossos irmãos, por que Deus assim nos pede e exige: que cada um cuide do irmão com o desvelo do Seu coração e o entregue à Sua misericórdia e ao Seu amor divinos.
Muito obrigado. Assim seja!

(Chama do Carmo – NS2 26 Out 08)

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