terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Novena de Natal (I)

ROMANCE SOBRE O EVANGELHO «IN PRINCIPIO ERAT VERBUM»,
ACERCA DA SANTÍSSIMA TRINDADE (I)


No princípio morava
O Verbo, e em Deus vivia,
Nele sua felicidade
Infinita possuía.
O mesmo Verbo Deus era,
E o princípio se dizia.
Ele morava no princípio,
E princípio não havia.
Ele era o mesmo princípio;
Por isso dele carecia.
O verbo se chama Filho,
Pois do princípio nascia.
Ele sempre o concebeu,
E sempre o conceberia.
Dá-lhe sempre sua substância
E sempre a conservaria.
E assim, a glória do Filho
É a que no Padre havia;
E toda a glória do Padre
No seu Filho a possuía.
Como amado no amante
Um no outro residia,
E esse amor que os une
No mesmo coincidia
Com o de um e com o de outro
Em igualdade e valia.
Três pessoas e um amado
Entre todos três havia;
E um amor em todas elas
E um só amante as fazia,
E o amante é o amado
Em que cada qual vivia;
Que o ser que os três possuem,
Cada qual o possuía,
E cada qual deles ama
À que este ser recebia.
Este ser é cada uma,
E este só as unia
Num inefável abraço
Que dizer-se não podia.
Pelo qual era infinito
O amor que os unia,
Porque o mesmo amor três têm,
E sua essência se dizia:
Que o amor quanto mais uno,
Tanto mais amor fazia.

(São João da Cruz)

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